segunda-feira, 24 de agosto de 2009

SURPRESAS


A vida é mesmo cheia de surpresas. E a minha então... parece uma festa surpresa de aniversário todos os dias: com bolo escondido, presente de última hora, gente atrás da porta, luz apagada, parabéns pra você cantado bem alto e, porque não, alguns abraços apertados e constrangedores.
Me preparava agorinha para o banho, quando me deparei com um surpresa [ou mais uma] da minha filha. A surpresa desta surpresa me fez lembrar quando eu tinha entre 10 e 12 anos e estava sentada à beira do rio com meu pai, pescando de anzol. Estávamos bem na beirada do rio, encostados em algumas bananeiras e os únicos peixes que beliscavam o anzol eram bagres.
O rio já era bastante poluído naquela época e com certeza não estávamos ali pelos peixes e, sim, pela companhia um do outro, pelo barulho da água descendo o rio, pela tranquilidade, pela paz...
Mas, como ia dizendo, lembro-me exatamente do pensamento que acometeu minha mente naquele momento: "um dia vou adotar uma criança!". Não sei porque pensei isso, exatamente naquele momento, nem porque me lembrei disso agora, mas a verdade é que esse pensamento permaneceu na minha mente por quase 20 anos.
Há 09 anos convivendo juntas, de uma forma ou de outra, todos os dias ela me surpreende. Quando era pequena, sempre que chegava da escola ela me trazia uma florzinha e me dava um beijo; me escrevia cartinhas e recadinhos carinhosos; fazia desenhos para mim...
O tempo foi passando e as surpresas foram mudando. Hoje com 15 anos ela não traz mais flores para mim e reluta todas as vezes que peço um beijo, mas continua expressando seu amor por mim com pequenos gestos de carinho, como o de hoje, que me fazem compreender que a maior surpresa de todas é ela fazer parte da minha vida e ser meu presente de Deus. Uma criança nascida de mim não seria mais minha filha do que ela.

sábado, 22 de agosto de 2009

CULTURA


A cultura é uma coisa muito interessante, principalmente quando está relacionada a um país tão diversificado como é o Brasil, que foi colonizado por povos tão distintos, resultando nesta miscigenação gostosa que é o povo e a cultura brasileira.
De uma região para outra, de um estado para outro e até de uma cidade para outra, é possível notarmos a diversidade cultural no modo de falar, vestir, agir, alimentar, etc.
Esta semana estava lendo o blog do Prata, no Estadão e ele começou falando mal da mostarda. Por uma fração de segundos pensei que ele criticava aquele grãozinho verde [que na verdade chama-se ervilha e não mostarda], mas logo em seguida lembrei-me que os paulistas tem costume de comer tudo com mostarda. Nós capixabas usamos cat-chup e maionese.
Quando estive em São Paulo há alguns anos tive dificuldades para pedir um lanche, e quando decido qual queria percebi que também era muito diferente daqueles que comemos aqui.
Na Bahia a comida também era uma loucura [de boa]! Comi cocada, tapioca de carne seca, muita moqueca e experimentei o tal do acarajé [mas confesso que não gostei deste último]. Sem falar no jeito de falar do povo de lá, o carisma em atender aos turistas, seu modo de vestir...
Quando em minas não notei tanta diferença na alimentação, haja vista que moro aqui bem pertinho... mas o jeito de falar daquele povo também é diferente do nosso.
Nosso! Só nosso [capixabas] é chamar lagartixa de taruíra, biscoito de polvilho de maluco, suco congelado na sacolinha de chup-chup; também é nosso o Moxuara, a Jully, o Roberto Carlos e muitos outros; ter praia e montanha num curto espaço de distância; ter gente hospitaleira que faz de tudo para agradar ao estranho e ao conhecido; ter trânsito caótico em cidadezinhas com menos de 30mil habitantes; ter orgulho de ser brasileiro e possuir esta diversidade cultural sob a mesma língua, o mesmo presidente, a mesma nação.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O CASO DOS PAPEIS QUE "CRIARAM"

Eu não sou cientista, bióloga ou coisa parecida. Sou apenas uma pedagoga que gosta de escrever. Mas, ultimamente, alguns acontecimentos levaram-me a investigar se os papeis (papel mesmo, folha de chamex, A4 ou Ofício) são seres vivos e, portanto, sexuados.
Os fatos que determinaram esta investigação são observados de duas semanas para cá, onde a cada momento (não de um dia para o outro, mas a cada levantada minha da cadeira) tenho notado que os papeis em minha mesa tem se multiplicado.
São papeis de todos os tamanhos, formatos, cores, espessuras, digitados, manuscritos, rabiscados a lápis, caneta azul, vermelha, preta e até verde. É uma imensidão de papel sem procedência aparente que vem causando incômodo não só a mim, mas a todos aqueles que por ventura entram em minha sala.
Minhas investigações levaram-me a interpelar diversos colegas de trabalho a respeito da procriação dos papeis em minha mesa e todos, em comum acordo comigo, concluíram que algo de muito estranho vem acontecendo em minha mesa e em seus arredores (porque eles estão se expandindo para outras paragens).
Quem me deu o parecer final nesta investigação foi a Lurdinha (meu outro anjo sem asas, pessoa de Luz e Espírito). Ela me disse que todas as manhãs, quando vai limpar minha sala ela encontra um emaranhado de papeis atrás do latão de lixo, debaixo da mesa.
Bingo! Encontramos o ninho dos "dito cujos" e por mais que queiram me provar que os papeis são celulose e procedem de inocentes árvores após processo de industrialização, eu afirmo que os da minha mesa são seres vivos, sexuados, que estão fazendo orgias em baixo da minha mesa e, o mais interessante, o período de gestação deles é mais curto que o dos ratos.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

SER CRIANÇA

Criança tem gostos estranhos, né? Talvez porque não tenham consciência do que é a vida e do que tudo o que fazemos nos trazem consequências, mas a verdade é que as crianças não se importam com as aparências, com as consequências, com os desdobramentos dos fatos, etc, etc, etc.

Quando eu era criança adorava andar de camburão da polícia. Toda vez que meu pai estava de plantão (ele é PM aposentado), torcia para que ele passasse lá em casa para me pegar e levar para a escola e quando ele entrava no pátio da escola para manobrar então... aí eu ia nas nuvens!!!

Mas eu era criança... hoje as viaturas me assustam, o giroflex ligado me arrepia a nuca e a sirene me tira o fôlego.

Gostava de andar descalço pelas ruas. Vivia perdendo o chinelo e quando mamãe pedia para comprar alguma coisa no mercado, ou pão na padaria, eu ia mesmo era descalço. Hoje, dar um passo (ou vários) pelas ruas descalço me causa repulsa e vergonha.

Também tinha muitas amigas. Andávamos abraçadas, de mãos dadas, ficávamos o dia inteiro juntas, tomávamos banho juntas, dormíamos juntas...

Acho que a felicidade e o prazer das crianças em seus gostos e hábitos estranhos está na inocência, na ausência de maldade, na amizade incondicional, no amor desmedido, na confiança no próximo...

Como gostaria de voltar a ser criança, ou pelo menos agir e pensar como elas...Feliz foi Peter Pan!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

ATIPICIDADE


Segundo o dicionário Aurélio, “atípico” significa aquilo que se afasta do normal e, sinceramente, ultimamente minha vida tem se afastado no “normal”. Não sei bem como e porque esta atipicidade começou, mas posso garantir que muita coisa tem fugido ao convencional nos últimos dias.
Passei a observar a atipicidade na minha vida esta semana, mais precisamente no domingo, que, a princípio, não passaria de mais um domingo na minha vida totalmente típica: acordei no mesmo horário, o Hulligan (meu pit bul) havia destruído a área de serviços, tomei meu leitinho de soja com café, escrevi minha crônica matinal... até que recebi um convite na hora do almoço para ir “na roça”. Simples assim, como qualquer outro convite. E aceitei. E foi um passeio bastante atípico.
Para começar fomos de fusca. Não sei o tempo que não ando de fusca, sem falar na motorista, que não é lá grandes coisas (na verdade uma coisinha bem pequenininha e encrenqueira) dirigindo um fusca. E ainda tinha a estrada que para mim não é estrada, é caminho de boi.
O que não foi atípico foi a forma como fomos recebidos pelos donos da “roça”. Gente boa, que nos recebeu como se fossemos as visitas mais importantes do ano (e quem disse que não éramos?). E como fomos bem recebidos, agradados, acariciados, e como foi bom nos sentirmos assim!
A atipicidade daquele domingo continuou quando catamos ameixas do pé, descascamos com as mãos, chupamos e percebemos que não estavam tão doces como imaginávamos (na verdade estavam extremamente azedas!), subimos no pé de jabuticaba e estouramos aquelas frutinhas pretas na boca, sem ao menos lavá-las, nada de vírus ou bactérias, só a doçura do fruto e o prazer da façanha.
Pulamos um rego seco de um rio, tiramos fotos em troncos de árvores, e também subimos em uma goiabeira sem folhas e nos penduramos numa porteira pintada só de um lado para registrarmos o nosso dia atípico.
Observamos dois pares de homens jogando “malha”, um jogo típico trazido ao Brasil pelos imigrantes italianos que, por mais que nos esforçássemos, por mais que tenhamos formação acadêmica, por mais que nos achemos inteligentes, cultas e profissionais da educação, não conseguimos entender sua dinâmica, objetivo, ou mesmo o que fazia aqueles quatro homens ficarem jogando aquele disquinho de ferro de lá para cá num improvisado “campo de malha”... (coisas de homens...).
Como não tinha mais nada a explorar, fomos bisbilhotar numa casa novinha que um cara fez para morar quando casar. A atipicidade neste caso está no fato de que o cara ainda nem tem noiva, nem namorada, só fez a casa... (sem comentários).
Viemos para casa no final da tarde (de fusca) ouvindo Romildo Dias narrando o final do campeonato municipal pelo rádio do carro/fusca.
Só para acrescentar um pouco mais de atipicidade a este dia, quando chegamos em casa, a chave da porta havia ficado no bolso do Seu Zé, e tivemos que procurar uma janela que pudesse ser aberta para entrarmos. Sabe qual encontramos? A mais alta! E eu tive que fazer “escadinha” pra Rê subir, pular a janela e abrir a porta por dentro.
Como precisava registrar esse dia, deitei ali no chão da sala da mesmo pra fazer as anotações, só que a atipicidade ainda pairava no ar, e chega a Vera com um filhote de cachorrinho lindo que não conseguimos identificar a raça (por isso categorizamos como “tomba latão”) que tomou toda a minha atenção e carinho, me levando a finalizar este texto apenas hoje.
Mas isso não foi de todo mal, porque a semana continua atípica e, realmente, sinceramente, efusivamente, espero que continue assim por muito, muito tempo, porque é de atipicidades assim que se faz a vida e se constroem os pedacinhos tão importantes para sua beleza, leveza e para que ela valha a pena.

domingo, 9 de agosto de 2009

PAI


Ele tinha 39 anos quanto ela nasceu. Não era tão pequena assim como ele imaginava, não possuía um fio de cabelo sequer e como chorava... gritava tanto, que mesmo não tendo nenhum conhecimento médico e/ou científico, ele tinha certeza de que ela não possuía nenhum problema nos pulmões.
Por mais que esta não fosse sua primeira experiência, ele sabia que esta seria única e que a partir daquela madrugada úmida, sua vida não seria mais a mesma; que as noites de sono não seriam mais tão tranqüilas e que a maioria dos homens, principalmente os mais jovens, não seriam mais vistos com bons olhos.
O tempo foi passando e aquela criaturinha frágil, sem cabelos e sem dentes, foi ganhando cabelos dourados como o sol e dentes brancos como algodão, que se enfileiravam num sorriso todas as vezes que ele olhava para ela e fazia uma gracinha qualquer.
O fato de ser uma menina não foi nenhum empecilho para que se tornassem grandes companheiros das mais diversas jornadas possíveis. Quando ela já andava e falava pelos cotovelos ele a levava para pescar. Ele entrava no rio com a tarrafa (naquela época ainda era permitido e havia muitos peixes no rio) e ela ficava na margem, segurando o saco e aguardando os peixes.
Quando precisavam atravessar para a outra margem, cujo rio ainda possuía muita água e correnteza, ele colocava a tarrafa num dos braços, ela se pendurava em seu pescoço e lá iam eles rio afora. Com o saco cheio de peixes eles voltavam para casa e, ainda juntos, iam limpá-los para fazer a moquecada.
Houve também um tempo em que eles simplesmente entravam dentro do fusquinha bege e davam voltas pelas ruas, só para ver o movimento...
Um dia ele a ensinou a jogar bisca e quando jogavam apostando balas, ele se enchia de orgulho porque ela fazia o favor de ganhar todas as rodadas. Ao se dar por satisfeita, ela reunia seu ganho, colocava em uma sacola e ia dormir.
Foi ele também que a ensinou a dirigir o fusquinha bege aos 15 anos de idade; a trocar pneu logo em seguida; que chovia em todos os dias de finados e que este dia era reservado para rever os tios, tias, primos e primas lá de Itapina.
É, ela foi uma companheira e tanto em todas as horas e em diversas aventuras. Fora as noites que ele perdeu (ou ganhou?), velando-a com febre altíssima por causa das inflamações de garganta, noites e dias estes que ela não comia nada além daquele copo de salada de frutas comprado no bar do “Seu Lindolfo”.
E foi assim, até o dia em que ele, numa mistura de alegria e tristeza, alívio e dor, esperança e saudosismo, magia e inquietação, felicidade e nervosismo, atravessou a nave da igreja com ela pelo braço para entregá-la a outro homem (que no seu íntimo não passava de mais um garoto).
21 anos de convivência feliz, ao mesmo tempo que conturbada, passaram pela sua mente naqueles pouco mais de 4 minutos. Ele sabia que no final daquele corredor apertado da igreja, toda enfeitada de flores, quando ele entregasse o seu bem mais precioso àquele cara, sua parceira perfeita não estaria mais à sua disposição em todos os momentos que ele precisasse...
Mas é assim, fazer o quê?
Um pensamento, então, tomou conta de sua mente, talvez enviado por Deus para que ele pudesse cumprir mais esta missão da melhor forma possível: “chega um momento em nossas vidas que nossos filhos deixam de ser filhos, mas nós, nunca deixamos de ser pais!”
Feliz dia dos Pais!

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

MULHER, LOIRA E INTELIGENTE (do que mais preciso?)


Estou cansada de ouvir todos os dias, quando vou ou volto do meu trabalho, quando vou ao supermercado no sábado, ou ainda quando estou dando uma voltinha inofensiva pela cidade no domingo à tarde, que “mulher no volante é perigo constante”, que “lugar de mulher é pilotando fogão”, ou o expresso “vai achar uma pia cheia de vasilhas para lavar...”
Bom, a verdade é que todas as estatísticas mostram que nós mulheres somos melhores motoristas e mais cuidadosas no trânsito que os homens. Até mesmo os seguros de automóveis já admitiram isso e nos contemplam com parcelas mais amenas e outras vantagens sobre esses trogloditas que dirigem como animais em manadas pelas ruas, levando ao pé da letra a lei do mais forte vence, ou seja, do carro mais potente, maior, mais bem equipado, etc.e ainda se achando gênios em tudo o que diz respeito a veículos automotores.
Só que hoje, eu, uma simples mulher, loira (diga-se de passagem), coloquei no bolso uma boa dúzia de homens: mecânicos (carecas de mexer com carros), motoristas com carteiras com todas as letras do alfabeto, chefes de departamento extremamente competentes naquilo que fazem, e demais curiosos que tentaram, exaustivamente (e não conseguiram) ligar um veículo codificado eletronicamente.
Imaginem só a cena: eu chegando no meu golzinho duas portas ano 2003, estacionando no pátio onde ficam os carros, me encaminhando ao chefe de departamentos e pedindo a chave da Dukato para ligá-la. Ele me olha meio desconfiado, mas sua educação não permite nenhum comentário daqueles inúmeros que ele com certeza elaborava em sua mente machista, nos dirigimos em direção ao citado carro e no caminho o chefe dos mecânicos nos acompanha, com um sorrisinho de escárnio nos lábios, duvidando desta loira que vos escreve conseguir fazer o que eles há dias tentam, tentam e não conseguem.
Entre tantas dúvidas e incertezas a respeito de minhas capacidades diante do volante, eles abrem o carro para mim, eu me sento diante do volante, pego as instruções da decodificação, juntamente com a chave do veículo e eles, de pé na porta, fazem questão de me lembrar de colocar o carro em ponto morto (ou neutro); calmamente piso na embreagem e coloco o carro em ponto morto, coloco a chave na ignição, piso algumas vezes no acelerador, conto algumas vezes a luzinha do painel acender e apagar, e, finalmente, viro a chave e ligo o carro e ele roncou alto,para que todos pudessem ouvir que estava novamente vivo, depois de semanas abandonado no canto do pátio...
Simples assim...
Deixei os dois homens parados na porta do carro com cara de “homens”, além da legião de outros “homens” que me olhavam com rabo de olho por todo o pátio de carros.
Para finalizar meu momento de mulher, loira e inteligente à frente do volante, citei para eles uma frase já bastante maçante, mas que colocou-os em seus devidos lugares: “Deus fez primeiro os homens só para observar o que havia de defeituoso e problemático para aí sim criar o ser perfeito – as mulheres!”
Agora quero ver qualquer um deles me dizer que qualquer problema me meu golzinho duas portas ano 2003 vier a ter é por causa da pecinha defeituosa que fica localizada entre o banco do motorista e o volante.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O DESAFIO - PARTE III: 2024


É 04 de agosto de 2024. Estou dentro do meu carro, estacionada numa travessa no centro da cidade, que a estas horas ainda é tranquila. Pelas frestas dos vidros ouço os uivos do vento lá fora, que sempre existiu nesta época do ano, mas a cada ano que passa vem se tornando mais forte, e nunca foi tão intenso como agora; em alguns momentos sinto o carro balançar com a sua força.

Sinto que não posso demorar por aqui. Em breve escurecerá e as ruas não são mais seguras como outrora, sem falar no frio intenso que abate a cidade assim que o sol se põe. Durante o dia o calor é insuportável, entretanto, durante a noite as temperaturas caem a níveis inadmissíveis.

Preciso apressar-me; preciso resolver logo o que me propus para poder voltar para a aparente segurança da minha casa. Aparente porque apesar dos altos muros, cercas elétricas, câmaras de segurança e cães de guarda, se "eles" quiserem realmente entrar, nada disso os deterá.

Rapidamente reúno meus pertences e ligo o carro, que já não é mais um ato tão simples como antes, dados os novos combustíveis criados que temos que usar agora, para substituir o petróleo que após décadas de exploração desenfreada, se tornou inacessível à maioria da população mundial, inclusive à nós que fomos um dos grandes exploradores das ilusórias camadas pré-sal de outrora.

Com algum sacrifício dirijo pelas ruas empilhadas de pessoas tão apressadas quanto eu em direção ao seu refúgio, além de muito lixo; lixo este que os fortes ventos ajudam a espalhar e a exalar seu odor para ainda mais longe.

Pelo vidro fechado do carro vejo uma senhora apressada arrastando uma criança pelo braço. As crianças de hoje também não são mais como as do passado, agora elas tem o olhar triste e assustado, ou, nos piores casos, tem o olhar da maldade que "eles" possuem; mas neste horário "eles" ainda não se arriscam a circular pelas ruas.

Chego, enfim, à minha casa. Um certo ar de segurança me invade, entretanto sei que ele não é tão verdadeiro assim. Tranco os portões, religo a energia das cercas, alarmes e câmaras de segurança. Antes de me enclausurar em minha casa alimento meus cães e lhes faço um afago, eles que jamais puderam conhecer a liberdade e acham que o mundo se resume à uma área de 200m.

Acendo as luzes da minha sala e vislumbro as telas que num passado não muito distante foram pintadas por mim, mas que cujas belas paisagens poderiam ser apreciadas de qualquer janela de minha casa, janelas estas que sequer podem ser abertas hoje.

Sobre a estante pendem porta retratos de uma felicidade que parece, olhando agora, que nunca existiu, foi apenas um sonho. Minha mente vagueia pelo passado e esboço um sorriso em meus lábios. Em meio ao sorriso ouço um forte grito de terror vindo lá de fora, seguido de diversos outros gritos ainda mais terríveis e uivos que, agora, não são mais apenas do vento. São "eles" que se aproximam e se apoderam daqueles que não conseguiram encontrar um abrigo seguro a tempo.

Em meio a este clima sombrio, meu esboço de sorriso se transforma numa interrogação: até quando existirão abrigos seguros? até quando conseguiremos prosseguir nesta jornada que sequer sabemos aonde nos levará?...

domingo, 2 de agosto de 2009

"Vaidade das vaidades, tudo é vaidade" (Ec: 1.2) - Resposta



Às vezes as palavras são ditas (ou escritas), mas por si só não trazem o peso do sentimento que as disseram (ou escreveram), ou ainda, em decorrência das circunstâncias ou do contexto, elas assumem sobre si um peso além daquele que lhes foi dado.
Geralmente quando paro para analisar o mundo, sua composição, minha localização dentro dele e o envolvimento dos demais seres que o habitam em sua movimentação, fatalmente chego a conclusões que causam divergências, não entendimento e incompreensão por parte daqueles que, por ventura, tomam conhecimento de minhas análises e conseqüentes divagações.
Em meu caminhar (que já teve altos e baixos como o de todo mundo), sou sempre sustentada pela minha esperança e, sobretudo, pela minha fé. Só que sou humana, fraca e pecadora e em alguns momentos minha esperança e fé me levam a concluir como o Pregador, que tudo o que faço, por mais elaborado que seja, não passa de um simples “correr atrás do vento” (Ec: 1.14).
Esta estranheza com o mundo e com as coisas que me são comuns, são conseqüência de uma das características da esperança, aquela de antecipar o futuro, de fantasiar... e, quando nos damos conta de que o que idealizamos não faz parte do que estamos vivenciando, nos decepcionamos, levando-nos, ou melhor, levando-me a discorrer sobre minhas dores, angústias, inquietações, depressões...
Quando em meu texto anterior levantei a questão de que acreditava que para que tudo desse certo neste mundo era só ser boa, não quis dizer que estava fazendo uma troca com Deus; mas, como cresci ouvindo que “se não fosse boazinha Deus castigaria”, realmente passei a acreditar que “sendo boazinha Deus me recompensaria”, mas o Pregador constatou (como eu também já imaginava, mas no momento de desesperança não gostamos de admitir) e me disse que: “considerei todas as obras que fizeram minhas mãos, como também o trabalho que eu, com fadigas, havia feito; e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol” (Ec: 2.11).
Vê, quando me disseram para ser “boazinha”, esqueceram de me dizer que isso não me absteria de sofrer, lutar, decepcionar, enfadar, entristecer, etc. mas que me daria o privilégio de me regalar “acima do sol”.
Oriah Dreamer (2000), completou lindamente minhas reflexões acerca do meu texto anterior e dos comentários que ele geraram, dizendo que: “às vezes, quando acaba a esperança, posso levar a respiração até meu coração e ali encontrar a fé que me sustenta, a fé que é alimentada pelos momentos em que eu ou os outros somos capazes de encontrar o que é bom, o que é engraçado, doce e suave na vida, apesar das feridas profundas e das dificuldades insuperáveis. É a coragem do espírito humano e a persistência incansável da vida ao nosso redor que me dá fé. Então eu creio, [...] tudo bem, realmente tudo bem. A vida continua, e com sua beleza conspirará para trazer-me de volta a esperança. Tenho fé nisso” (p. 144-145).
E, como Deus me ama e jamais me abandonará, colocou na minha vida um anjo, que me trouxe outro anjo (que agora não é mais emprestado, mas que me pertence porque eu o conquistei e ele me conquistou) para aquecer minha fé e trazer de volta a minha esperança.


Amo vocês duas!