Verão
em casa de praia é sempre cheio de histórias. Umas divertidas, outras nem
tanto. A casa que ficamos este ano é alguns milímetros maior que a do ano
passado, talvez por isso, achamos que poderíamos mais levar dois hospedes
explícitos e um implícito o que, grosso modo, diminuiu ainda mais nosso espaço.
Como
de costume, acampamos na sala que é anexa á cozinha. Noites iniciais tranqüilas:
nem um pernilongo, um tanto quanto fresco, cansaço de viagem... Foi na quarta
noite que tudo aconteceu. Todos dormíamos tranqüilos quando um ruído
estranhíssimo tomou conta do ambiente. Uns descreveram-no como o de um tanque
de guerra atacando o exército inimigo; outros menos exagerados julgavam o
barulho como de um aeromodelo sobrevoando e fazendo manobras no céu da sala; e
houve ainda aqueles que o caracterizaram como o de uma tobata agarrada no
barro.
Alguns
minutos de discussão dentro de nossas cabeças e percebemos que tratava-se do
motor da geladeira. A primeira a levantar foi a Vera. Como não havia solução
definitiva para o problema, ela tirou a tomada por alguns segundos e a
recolocou. O barulho parou. Embalamos novamente no sono e em menos de 30
minutos o tanque de guerra, o aeromodelo e a tobata voltaram a funcionar a todo
vapor, assim, todos juntos.
Quem
se levantou na segunda vez fui eu, sábia como sou, repeti a manobra da Vera. A
geladeira, que não é loira, esperou outros 30 minutos, soltou uma gargalhada e
reiniciou seus roncos estridentes.
O terceiro
a levantar foi o Ivo, que meio cambaleante arrancou a tomada e jogou-a no chão:
“Pronto, agora quero ver quem ri por último!”
Foram
só mais 30 minutos de silêncio e outro ronco iniciou-se. Mal pude acreditar:
como estaria aquela fera a urrar se estava sem o menor contato com a rede
elétrica? Será que havia algum tipo de armazenamento secreto?
Minha
mente vagou até perceber de onde vinha o som desta vez. Cutuquei o Ivo e
desafiei-o: “quero ver você desligar essa agora.”
Novamente
o pobre levantou-se, desta vez ainda mais cambaleante, olhou para um lado,
olhou para o outro: “como desligar a tomada de alguém roncando?”