quarta-feira, 6 de junho de 2012

O DIA QUE "PERDI" UM ALUNO


Vira e mexe os grupos formados no ônibus resolvem ir a uma pizzaria, ou lanchonete comer alguma coisa antes de voltar para casa. Dia desses, um dos grupos resolveu lanchar minutos antes do ônibus chegar com o restante dos alunos. O que aconteceu foi uma divisão de águas, ou melhor, grupos, um foi para a lanchonete encher o “pandu” e outro ficou emburrado esperando no ônibus.
Depois de longos minutos de espera, os que lancharam entraram no ônibus eufóricos, de barriga cheia e totalmente animados; depararam-se com o grupo enfezado, de barriga vazia e mal humorado. Uns fizeram não ver os outros e, como bom motorista, liguei o ônibus o mais rápido possível e parti.

Quando a gente viaja com crianças, ao ligarmos o ônibus, levantamos lá na frente e perguntamos ao grupão: “Seu coleguinha do lado está aí? Está faltando alguém?” Há até aqueles que contam cabeça por cabeça para conferir se estão todos dentro do ônibus antes de partir. Eu não estou viajando com crianças, são todos maiores de idade, são todos adultos, simplesmente liguei o ônibus e parti.

Já havíamos andado bom pedaço da estrada quando alguém gritou: “Cadê Fulano? Fulano ficou para trás!” Eu cheguei sentir um frio na espinha, havia largado um aluno na lanchonete? Ligou um, ligou outro, até que confirmaram que o Fulano havia realmente ficado esquecido na lanchonete.

Com muita dificuldade encontrei um contorno e voltei. Encontrei o Fulano totalmente desorientado no meio da rua perto da lanchonete, já imaginando como chegaria em casa, se chegaria, o que faria... 

Quando ele entrou no ônibus foi uma algazarra, não houve quem não zuasse o Fulano: “Como perdeu o ônibus? Onde se enfiou? Virou criança pra se perder?”

Andamos novamente o pedaço anteriormente percorrido e outro grito vindo lá de trás: “Minha mochila, esqueci minha mochila!” Só poderia ser brincadeira, alguém estava tirando uma comigo, não seria possível que no mesmo dia em que perdi um aluno, alguém perdera a mochila e eu teria que voltar novamente. Mas não era brincadeira, depois de procurar com todos os possíveis brincalhões que poderia ter escondido a tal mochila, chega outro aluno ao meu lado e pede para voltar porque sua mochila havia ficado na lanchonete.

Não preciso descrever minha cara ou o sentimento que tomou conta de mim porque dá para imaginar, voltar duas vezes, do mesmo ponto da estrada, depois de esperar quase uma hora o grupo lanchar, mais que atrasado, mais que cansado, mais que querendo minha cama... voltei, pegamos a mochila que já havia sido guardada pelo cara da lanchonete e tomamos caminho novamente!

Quando chegávamos perto do contorno que eu já havia feito por duas vezes aquela noite, parei o ônibus e gritei para o fundo do ônibus: “Alguém mais ficou para trás ou esqueceu alguma coisa na lanchonete? Porque se eu passar deste ponto, nem se o Presidente ligar eu volto!”

sábado, 2 de junho de 2012

A PORTA DA VAN


Pego a estrada todos os dias às 15 horas com destino à Capital, levando alunos para estudarem nas faculdades de lá. Seria apenas mais um trabalho normal de motorista, não fossem as “histórias” que teimam em acontecer comigo na direção do ônibus, dia sim e outro também.

Outro dia, como chovia muito ao sair de casa e o ônibus estava com a paleta quebrada, troquei o veículo pela Van. Gosto da Van, é menor, melhor para dirigir, mais ágil, comporta-se melhor no trânsito pesado da Grande Vitória, mas nela cabem apenas 16 passageiros e tem dia que contamos mais de 20, o que nos obriga a irmos de ônibus mesmo.

Como ia dizendo, naquele dia fomos de Van. A viagem de ida foi tranqüila, como sempre é na Van, a “história” começou na volta, já em Campo Grande quando fui pegar os últimos alunos. Ao parar para o aluno, quem disse que a porta da Van abriu para ele entrar?
Futucamos para lá, futucamos para cá e nada. Uns tentaram por dentro, eu e o  aluno por fora e o que conseguimos foi arrancar a porta.

Depois disso, a “história” foi ficando cada vez mais interessante; precisamos de oito braços masculinos e 11 bocas femininas para colocar a porta no lugar e tentar chegar em casa. Tudo muito bom, tudo muito bem, até chegarmos e o primeiro aluno precisar descer da Van: quem disse que a porta da Van abriu para ele sair? Nem arrancar ela quis mais, ela ficou lá, estática, totalmente travada, nem balançava.

A solução encontrada foi os alunos pularem para o banco da frente e saírem pelas portas do motorista ou do carona.  Era até divertido ver aquele povo espremendo entre o teto e o encosto do banco dianteiro para ir para casa, até que paramos diante da Banda Musical para o desembarque do maestro. Não sei bem as medidas dele, mas sei que ele ficou agarrado no pequenino espaço.

Novamente foram necessários alguns braços masculinos e outras tantas bocas femininas e seus pitacos para que o maestro conseguisse desentalar e desembarcar.

No dia seguinte levei a Van ao mecânico para solucionar o problema da porta e qual foi minha cara de taxo quando ele disse que se eu tivesse virado a trava da porta na direção de abrir, teria sido mais fácil o embarque e desembarque dos alunos.

É, são “histórias” que acontecem no ônibus e, agora também na Van.