
Achamos interessante, mas recusamos. Afinal estávamos chegando ao balneário, era ainda o primeiro dia, e não pensávamos em lembranças. Na verdade, ainda nem pensávamos no retorno. Queríamos apenas curtir, rir, brincar, descansar e conhecer gente. E quanta gente aquele lugar oferecia. Gentes de todos os tipos, jeitos, tamanhos e cores (se bem que a cor predominante era o vermelho e seus matizes).
Todas as manhãs, tardes e noites, quando caminhávamos pela orla, deparávamos com uma infinidade de gente. Como boa observadora, seus trejeitos eram o que mais me encantava. Ficava ali, entretida entre olhar as ondas que iam e vinham e as gentes que também iam e vinham. Admirava-me com a diversidade de gente que o mundo oferece, e ao mesmo tempo basta você encontrar uma que encaixe com você para que seja “feliz para sempre”.
Nesta multidão de gente, vi os que olhavam extasiados para aquela imensidão de água a sua frente e sentiam medo; via as gentes pequenas que se divertiam mais que as gentes grandes, pelo simples fato de que naquele espaço não existiam grades, muros ou qualquer limitação de suas aventuras; vi gente cuidando da saúde correndo de lá para cá; vi gente exibindo a saúde (ou falta dela) também correndo de lá para cá; vi gente tostanto ao calor do sol ignorando todas as dicas médicas de saúde e de bom senso.
Vi gente que estava ali só para dar um tempo na realidade da vida; vi gente que estava ali encarando a realidade da vida; vi gente empurrando carrinho na areia fofa ou carregando pesos astronômicos nas costas surradas pelo sol.
Vi gente, muitas gentes e o mais interessante é que as gentes se renovam a cada dia, ou seja, a gente que você via num dia, você não via mais no outro dia, assim como a mulher do arroz.
Quando estávamos nos últimos dias de férias, concluímos que um grão de arroz com o nome escrito de tinta preta, boiando num minúsculo tubo com água atado a um cordão preto era uma boa lembrança para as gentes que amamos e que ficaram em casa. Desta forma, nos pusemos a procurar a mulher do arroz.
Andamos dois, três dias a sua procura. Exaustos, alguém cogitou a possibilidade de tê-la visto em algum ponto do calçadão escrevendo no arroz e lá fomos nós procurá-la e nada. Outro dia, num lual, outra das nossas gentes achou que fosse ela por lá também, mas era apenas outra mulher, não a do arroz.
E foi assim, que viemos embora sem o arroz com o nome escrito de tinta preta, boiando num minúsculo tubo com água atado a um cordão preto, mas com muitas gentes novas na cabeça devido a infinidade com a qual nos deparamos naquele lugar; deixando a certeza de que no mundo há mesmo muita gente e coisa para ser vista, ouvida e sobretudo sentida. E, por mais conscientes que sejamos, não sabemos uma ninharia ou conhecemos muito pouco do que é a vida e o viver, e nada como uma voltinha fora do nosso mundinho para termos consciência disso.
Já na estrada, de volta para casa, uma de nossas gentes, que havia ficado na rodoviária para ir para outro lugar, nos manda uma mensagem via celular dizendo o seguinte: “Você não vai acreditar, a mulher do arroz acaba de entrar no meu ônibus”.
É, algumas vezes as gentes reaparecem, mas em outros contextos, ambientes e momentos. Coisas da vida.