segunda-feira, 12 de outubro de 2009

UMA CONVERSA SEM PALAVRAS



Sentamos uma de frente para a outra, olhando profundamente através das janelas da alma de cada uma, sem ao menos estarmos no mesmo ambiente, no mesmo espaço físico, e iniciamos uma dura conversa onde muitas coisas precisavam ser ditas, muitos assuntos dolorosos a seriam discutidos, muitos pontos obscuros a esclarecerem-se, muitas dúvidas a evidenciarem-se.

Naquele momento por tantos outros adiados, iniciamos uma conversa sem palavras, daquelas que dizem tudo o que precisa ser dito sem qualquer alterações no tom de voz, sem contestamentos, sem discussões, sem desgastes aparentes, porém, em momento algum, sem emoções.

As emoções daquela conversa sem palavras estavam latentes há muito tempo entre nós, mas eram escondidas, tanto por uma quanto pela outra, numa tentativa inútil de que o adiamento desta fizesse com que os problemas que as denotaram se resolvessem por si só e relegassem ao esquecimento toda a dor que vinha sendo escondida no recôndito de nossas almas. Eram, ainda, tão presentes estas emoções que poderiam ser tocadas apenas com um esticar de braço ou vistas comum olhar mais atencioso para os olhos uma da outra, tão densas que poderiam ser cortadas com uma faca e distribuídas entre ambas.

Os sentimentos ficam guardados em nossos corações esperando apenas o momento de aflorarem. Às vezes pensamos que eles possuem uma conotação, mas quando nos damos conta do real, eles se mostram como totalmente adverso ao que imaginávamos, esperávamos, desejávamos, nós surpreendendo e assustando mais do que supúnhamos.

Pouco a pouco, no decorrer daquela conversa sem palavras, as verdades que nos angustiavam nos últimos meses foram tomando corpo e forma e, na sua imensidão, tomavam mais espaço do que prevíamos, ocupando todo o ambiente ocioso da nossa mente, tomando conta também de nosso coração já há tanto machucado e ferido pela incompreensão e ignorância. O inevitável se aproximava e, mesmo não sendo esta a nossa vontade mais profunda, tomamos a decisão que menos queríamos, mas que parecia a mais adequada para as atuais circunstâncias.

Cada qual no seu ambiente, levantamo-nos silenciosamente e nos direcionamos cada uma de volta à sua vida, sem palavras, sem sons, acompanhadas apenas pelas lágrimas da dor da distância que se apossava de nós naquele momento nefasto e obscuro da nossa mais bela, doce e breve amizade.

Um comentário:

  1. Uma amiga me disse um dia, há muito tempo, que "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida". Naquela ocasião, eu não parei pra pensar, mas ao ler seu texto, esse foi um dos primeiros pensamentos que me ocorreram.
    Muitos são os motivos que nos levam a nos desencontrar, dos outros, de nós mesmos, dos nossos sonhos, daquilo que acreditamos, enfim; mas apenas dois motivos podem nos fazer acreditar, e sempre, no reencontro: a fé, de que Deus está no controle de todas as coisas, e o amor.
    Cultive sempre,Patrícia, com força e coragem, a sua fé em Deus, e jamais desista de amar; porque sem Deus e sem amor, a vida simplesmente não faz o menor sentido...

    Bj no coração
    E todo o meu carinho e cuidado

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