sexta-feira, 18 de abril de 2014

FAMÍLIA


Eu estava numa cama de hospital. Minhas filhas estavam comigo, junto com as filhas delas e os pais das filhas delas. Todos sorriam, inclusive eu. Sentia-me cansada, mas não sentia nenhuma dor, ou angústia, ou medo. Não sei que idade tinha, mas pelo que via das minhas meninas crescidas, mulheres feitas, eu tinha mais de 60; 70 talvez...

Minha filha caçula estava sentada aos meus pés com as pernas dobradas e tocava no violão uma música suave e feliz. Minhas netas riam e cantarolavam. Podia-se sentir o amor presente. Por um instante pensei ver ao fundo do quarto os que me precederam na morte: minha mãe, meu pai, meu irmão, uma tia que não lembro o nome, uma amiga... todos sorriam para mim, sorriso de aprovação.

Consegui vislumbrar a Minha Família. Todos ali ao meu redor, felizes com a minha presença, fazendo-me feliz com a sua presença. Vagarosamente fui fechando meus olhos, uma onda inexplicável de prazer tomava conta de mim. Adormeci o sono mais tranqüilo de toda uma vida. Silêncio absoluto. Paz profunda.

Ao longe ouvi uma voz suave me chamando: “Mamãe, mamãe, acorde, o médico chegou para dar sua alta. Vamos para casa!”