quarta-feira, 31 de março de 2010

LIBERDADE


Desde o seu nascimento o homem busca a liberdade. Liberdade de expressão, liberdade de ação, liberdade de movimentos, liberdade de pensamento. A ânsia de ser livre consome tanto nosso tempo que nem percebemos que nos aprisionamos a pequenos detalhes cotidianos que se transformam em amarras para uma vida toda.

Mas o que é a liberdade para você? Qual liberdade você busca? E o mais importante: onde pretende chegar de posse dela?

Liberdade, a grosso modo, é a faculdade de fazer ou não fazer qualquer coisa e, para isso, poder escolher. Liberdade é experimentar todos os sabores de sorvete, um de cada vez, escolher qual lhe agrada mais e repeti-lo. É decidir se segue para o sul ou para o norte descalço ou se caminha rumo ao por do sol. Liberdade é ouvir tocar a música mais doce que seus ouvidos já apreciaram e poder dançá-la sem se preocupar, se olhos alheios te julgam louco, desvairado ou simplesmente livre.

Cecília Meireles sabiamente disse que a liberdade é uma “palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”. Eu acrescento que não há ninguém que não a busque. Cada qual a seu jeito, cada qual a seu tempo, cada qual a seu modo, cada qual ao seu cada qual.

A liberdade também pode ser pintada num céu estupidamente azul, apresentando outros matizes além das variações de branco ao cinza chumbo das nuvens. Pode apresentar-se em forma de pequenos pontos (parapentes) laranja, vermelho, verde, amarelo, todas essas cores juntas, e outros tantos que não consigo enumerar.

Lá do alto, do céu, vemos pessoas buscando sua liberdade de uma forma inusitada. A liberdade de poder ver o mundo do alto e poder viajar ao sabor do vento, tendo como destino o imenso horizonte e como guia o radiante sol. Gente que não tem medo de se aventurar em busca de uma expressão de liberdade que não requer palavras, sons ou formas.

De fato liberdade se conquista com lutas cotidianas, discussões acaloradas, aprendizados de uma vida, mas depois que a temos em mãos devemos cultivá-la com atitudes que a enalteçam e a façam parecer ainda mais grandiosa para que possamos valorizá-la e mostrar àqueles que ainda não a conquistaram ou que, por algum motivo torpe a perderam, o quão importante é ser livre.

(Crônica publicada no Jornal Cidade - Mar/2010)

segunda-feira, 29 de março de 2010

VALORES


Como medir o índice de aceitação de alguém, ou saber se você é bem quisto ou visto, pelas pessoas com as quais convive? Melhor ainda, em que saber o quanto você é apreciado (ou não) pode influenciar na sua vida? Como definir, então, qual é, de fato, o seu valor?

As respostas podem ser múltiplas, dependendo da direção que tomam os questionamentos.

Saber o que uma pessoa pensa de você e dar peso a esta informação necessita, também, saber quais os valores que esta pessoa dá à própria vida, conhecer seus pesos e medidas, suas influências sociais, psicológicas, afetivas e até mesmo financeiras e, porque não, também seus pré conceitos estabelecidos sem critério algum de julgamento.

Tem uma historinha que conta que um jovem muito atordoado com sua imagem, saiu perguntando pelo mundo qual seu próprio valor. A cada resposta recebida, decepcionava-se ainda mais e o atordoamento crescia.

Em dado momento o jovem chegou-se a um sábio e questionou-lhe sobre seu valor. O sábio então disse- lhe que o responderia, mas antes ele teria que fazer-lhe um favor. Ávido pela resposta ao seu questionamento e, enfim, acabar com o seu sofrimento, o jovem prontificou-se a realizar o pedido do sábio que consistia em levar um belíssimo anel até a cidade e vendê-lo por não menos que uma moeda de ouro.


Entretanto, quando o jovem passou a oferecer o anel aos comerciantes e demais pessoas da cidade, eles riam do valor pedido pelo jovem, dizendo que este não valeria mais que uma moeda de prata.

Triste o jovem voltou ao sábio, receoso por não ter vendido o anel e, com isso, não obter a resposta tão almejada. O sábio, então, deu-lhe mais uma chance e pediu-lhe que se dirigisse à cidade mais distante e procurasse um determinado joalheiro e oferecesse-lhe o anel, lembrando de não vendê-lo por menos de uma moeda de ouro.

Um tanto quanto desanimado, o jovem partiu ao encontro do joalheiro e quão admirado ficou quando o joalheiro disse-lhe que aquela era uma jóia valiosíssima e que valia mais que dez moedas de ouro.

Agora feliz, o jovem voltou ao sábio não apenas com o resultado da sua venda, como também com a resposta ao questionamento que o atormentava há tanto tempo: “a única pessoa que pode dizer-me qual é meu real valor é aquela que realmente me conhece, e quem me conhece melhor que eu mesmo? Quem senão eu posso medir e definir meu próprio valor?”

Por isso, sempre lembro-me desta historinha quando sou avaliada por quem não me conhece verdadeiramente, não sabe das minhas lutas e sequer sabe o que vai ao meu coração. Alguém que mal sabe quem eu sou não pode se achar no direito de atribuir-me valor.

domingo, 28 de março de 2010

HISTÓRIAS


Ouvimos histórias o tempo todo, desde que nascemos, todos os dias, em todos os lugares onde vamos. Algumas histórias, mais que ouvimos, vemos, e outras, de tão intensas, vivenciamos.

As histórias são múltiplas, como múltiplas são suas personagens, seus cenários, seus contextos e seus finais. Há histórias que são contadas por diversas pessoas, numa efusão de sentimentos que se confundem com as histórias individuais de cada um de seus partícipes. Entretanto há aquelas histórias solitárias que são contadas por uma só personagem, num só contexto, com poucas ou nenhuma alteração no cenário. Nem por isso constitui-se de uma história triste, ou mesmo vazia.

Também tem aquelas histórias heróicas, onde as personagens principais são cheias de coragem e enfrentam todos os desafios sem titubear e estão sempre em busca de uma nova aventura, um novo obstáculo a ser transposto, uma nova vitória.

As histórias também são repletas de personagens insossos, inodoros, insípidos. Não claros como a água, pois de tão estáticos, já obscurecidos pela vida.

Entre todas as histórias com as quais me deparei nos últimos tempos, vivi, convivi, apenas observei ou interferi, uma coisa pude constatar, elas não são tantas quanto eu pensava. Muito pelo contrário. Os enredos, que às vezes, parecem tão distintos entre si, são apenas uma sucessão de fatos, uma repetição de histórias, revistas em pequenos pontos como mudanças de algumas personagens, mínimas alterações de cenários e, no mais, a mesma trama, a mesma urdidura.
Eu mesma já me peguei vivendo uma história da qual já ouvira falar antes por diversas vezes, como um “déjà vu”. A diferença, geralmente, encontra-se no final que nem sempre se repete. Acredito que a experiência nos permita percorrer outros caminhos a outros finais.

Talvez a explicação mais óbvia seja que o autor das histórias é o mesmo, e ele insista em repeti-las na esperança de que aprendamos as lições que ele tem para nos ensinar. Salientando, entretanto, que o que é óbvio para mim pode não ser para você.

sexta-feira, 26 de março de 2010

PERDÃO


Estou meio triste hoje. O Hulligan matou a Sise. Não foi por querer, eles se davam muito bem, brincavam juntos. Ela era bem folgada com ele, mas ele sabia que ela era menor e mais frágil e sabia como controlar sua força ao brincar com ela. Mas tem coisas que nós fazemos sem perceber (e outras até percebemos, mas não medimos) e depois nos arrependemos.

Sinto que quando ele se deu conta do que havia acontecido ele se arrependeu (se é que isso é possível). Está triste, cabisbaixo, com olhos chorosos. Quando cheguei em casa, agora à tarde, fui vê-la e ele foi comigo: subiu no balcão, olhou para ela, a cheirou e desceu novamente. Não sei de qual dos dois fiquei com mais pena.

Hoje, por si só, já estava sendo um dia pesado para mim e ficou ainda mais taciturno depois dessa cena. Fui obrigada a refletir: por que às vezes perdemos a noção de nossos atos? Por que não agimos sempre racionalmente? Por que nem sempre aprendemos com nossos erros? Por que não medimos melhor as conseqüências de nossas ações?

Viver é bastante complexo. É um exercício de encontros, desencontros, perdas, ganhos, vitórias, superações, emoções sem fim que se embaralham na nossa mente e confundem nosso coração. Se ao menos pudéssemos prever algumas dessas emoções antes que elas explodissem, se ao menos soubéssemos conviver com elas com mais sabedoria...

O Hulligan já esteve por aqui diversas vezes, parece querer pedir desculpas, da última vez até resmungou e choramingou, mas agora é tarde. Certas coisas se quebram e não conseguimos mais consertá-las, só nos restando aprender a conviver com os cacos.

sexta-feira, 19 de março de 2010

UM DESEJO DE FELICIDADE


Algumas pessoas dizem que a vida é feita de momentos especiais. Outras dizem que nós é que constituímos os momentos e os tornamos especiais. O mesmo se dá para a felicidade.
Há aqueles que a buscam incessantemente por toda a vida, uns encontram, outros não, outros talvez.

Há também aqueles que, munidos de grande sabedoria adquirida com o Sábio Senhor Tempo, compreendem que os momentos especiais da vida são aqueles compostos por pequenas, grandes ou médias felicidades, conquistados aos poucos, sorvidos com delicadeza, como uma boa xícara de café com leite morninho nas noites de inverno.

A verdade é que a cada dia, a cada momento, nos percebemos sempre mais e mais envolvidos com algo que nos dê prazer. Vivenciamos situações prazerosas e buscamos prolongá-las ao máximo. Nos relacionamos com pessoas agradáveis que nos transmitam alegria, serenidade, contentamento, satisfação, ou seja: a tal felicidade e o tal prazer.

Desejar felicidade a alguém, então, deve ser mais que reunir algumas palavras numa frase bem estruturada com seus verbos e adjetivos. Desejar felicidade deve ser fazer alguém, de fato, feliz e ser também feliz com a sua felicidade. É fazê-la sorrir e sorrir junto com ela. É abraçá-la com carinho e beijá-la com amor. É transmitir energia positiva e energizá-la com toda a sua força e vibração existencial. É pedir ao Papai do Céu que todas as bênçãos recaiam sobre essa pessoa e lembrá-la de agradecê-Lo depois.

Desejar a felicidade é, então, dividir tudo de bom que você tem com quem você ama e quer, literalmente, que seja feliz.

PS: Um desejo de felicidade como presente de aniversário a uma pessoa especial.

domingo, 14 de março de 2010

MEDO DA MORTE


Sempre encarei a morte de frente. Nunca tive medo dela, ou mesmo pensei em me esconder ou refugiar quando chegasse minha hora. Talvez por minha formação cristã, também via a morte de outros de uma forma mais branda, não que não chorasse, ou sofresse, mas compreendia-a como uma passagem, um período de afastamento que brevemente seria reestabelecido.

Usei o verbo no passado no parágrafo anterior porque algo em mim mudou neste fim de semana. Não deixei de encarar a morte pela perspectiva cristã, mas é que por um momento: breves segundos, talvez um minuto, eu tive medo dela. Vi-a de frente, senti seu hálito, seu suor gelado, sua aparência amarelada e a áurea de temor que a circundava.

Por um instante estive propensa a gritar por socorro, mas minha boca sequer chegou a se abrir e, acredito que se abrisse a voz não sairia. Não tinha forças para correr, fugir, esconder-me. Clamei, em silêncio, por misericórdia. Fechei meus olhos e supliquei para que ela fosse embora sem mim. Jogada ao chão senti o arrepio gelado de sua passagem e, vagarosamente ela foi partindo, sozinha.

Quando percebi sua total ausência, ainda um tanto aturdida, reergui-me lentamente, me recompus. Posteriormente refleti sobre o que me assustara tanto. Por que tive tanto medo de algo que nunca, de fato, me assustou?

Dentre todas as coisas que passaram diante dos meus olhos naquele momento de agrura, dentre todas as coisas sobre as quais refleti, duas situações doeram mais em meu peito: deixar sozinha quem eu mais amo nesta vida e não viver uma promessa de amor que se inicia.

Não é a morte em si que nos assusta, mas as perdas, diretas ou indiretas que ela causa ou, pelo menos, a ideia delas.

quinta-feira, 11 de março de 2010

REALIDADE


Este post não vai ser bonito, nem engraçado. Não vai trazer poesia como em tantos outros anteriores. Este post é apenas um desabafo da triste realidade que tenho encarado nas últimas semanas. Portanto, se não quiser lê-lo pare por aqui. Se prosseguir, peço, encarecidamente que me ajude a solucionar meu questionamento do último parágrafo, pois a cada dia que passa ele torna-se maior e mais difícil de ser resolvido.

De posse de nova função, tenho subido e descido serras, enfrentado chuva e sol. Tenho comido poeira e amassado barro. Tenho ficado sem almoço e até mesmo disposição (ou estômago) para almoçar. Tenho hora de sair de casa, mas nunca hora de chegar.

O que tenho visto, ouvido, observado e analisado é que a teoria é belíssima: atrás de uma mesa; em livros bem escritos, num computador de mesa ou de mão, com capas duras, letras coloridas e tudo mais. Mas a realidade faz os olhos arderem, o estômago doer, a cabeça parecer explodir, a emoção aflorar a pele e os olhos se encherem de água.

Belo é ver uma educadora por vocação conseguir que uma criança que há um mês freqüentando a escola ainda não disse uma palavra, ou realizou uma atividade, fazer sua avaliação diagnóstica apenas com acenos de cabeça e de mão e, com isso, levar outra educadora (esta em iniciação) a lacrimejar.

Triste é entrar numa sala de aula e deparar com 30 e tantos alunos de 06 a 14 anos, distribuídos do 1º ao 5º ano, com apenas uma professora para, além de ensinar a todos, limpar a escola, fazer a merenda, arrumar a cozinha, olhar para que as crianças não se matem no recreio, preocupar-se com o baixo rendimento daqueles que apresentam Necessidades Educacionais Especiais e ainda dar satisfação àqueles que, atrás de suas mesas, continuam achando linda (e perfeita) a SUA teoria.

Meu coração, mais que minha mente, me diz que preciso fazer alguma coisa para resgatar esses pequeninos cidadãos em formação, auxiliar esses professores cheios de boas intenções, mas que a muito perderam o entusiasmo e o brio diante das infindáveis dificuldades encontradas em seu dia-a-dia na sala de aula.

Mas o que fazer? Não consigo achar uma solução, uma pequena luz, para salvar um fio que seja desta bela teoria da qual estou cheia e que aos olhos de muitos aparece soberana, entretanto, a cada nova escola que visito, a cada aluninho com o qual converso e avalio, a cada professor que ouço o desabafo, compreendo que foi formada longe, muito longe, da verdadeira realidade das escolas multisseriadas da zona rural.

domingo, 7 de março de 2010

QUANDO TUDO ERA MAIS FÁCIL


Suavemente o sol entrava pelas frestas da janela amarela com a veneziana ainda entreaberta. Com os olhos embaçados pelo sono olhei em volta e percebi meu quarto: brinquedos espalhados pelo chão, a casinha de bonecas montada ao pé da minha cama, uma revista em quadrinhos jogada ao meu lado e, embaixo da cama uma almofada vazia.
Um som de rádio que vinha da cozinha me ajudou a terminar de despertar. Num ressalto joguei de lado as cobertas e pulei no chão. Passei a mão pelos cabelos, esfreguei os olhos e fui conferir se o café estava pronto, se havia pão na mesa ou se eu seria a responsável por buscá-lo no bar da esquina.

Um café corrido, um chinelo no pé (que provavelmente seria esquecido em algum lugar), um afago na minha cachorrinha e a primeira fugida sorrateira do dia para a rua.

Era domingo, e como todos os domingos o número de meninos na rua aumentava, triplicava talvez e isso era maravilhoso, pois significava que as brincadeiras seriam mais divertidas, mais entusiasmadas, mais esfuziantes.

Pela manhã nos concentramos na rua de cima, o sol ainda não havia chegado lá e, além do mais, quase não passavam carros. Pouco a pouco todos fomos chegando e os que se atrasaram foram convocados em suas próprias casas, aos gritos.

A rua virou um verdadeiro parque de diversões. Criamos campos de queimadas, bandeirinha e até de futebol. Como sou uma das mais encrenqueiras, precisei sair do jogo emburrada em alguns momentos ou expulsa em outros. Mas algum dia serei a dona da bola, ou de algum instrumento principal do brinquedo, e aí não, aí eu poderei encrencar com quem quiser, pois eu serei a rainha da rua naquele dia.

Quando enjoamos das corridas, partimos para o pique-esconde e, depois, chicotinho-queimado. Os caminhões do Seu João “Seis de Pano” (estranhíssimo esse nome de gente) foi nosso esconderijo predileto naquele dia, até que eu caí da caçamba de bunda no meio fio e prometi nunca mais me meter a besta de subir lá.

(Mais tarde, bem mais tarde, descobri que o nome do Senhor era João Sergipano, o que prova minha mente imaginativa desde Cedo.)

Quando nossos estômagos avisaram que a hora do almoço se aproximava, ouvimos, quase que ao mesmo tempo, de cada canto da rua, vozes de mães nas janelas das casas nos chamando para a refeição. Corremos em disparada em direção aquelas vozes sem ao menos dizermos tchau. Não só a fome nos direcionava e fazia correr, mas, principalmente o medo de não cumprirmos a ordem e sermos castigados e privados da próxima etapa de atividades domingueiras.

À tarde nossas brincadeiras foram direcionadas para a rua de baixo. Mas do outro quarteirão, depois da avenida, atrás da prefeitura. Parecia que lá tinha ainda mais meninos, de onde surgiam tantos? Não sei (e acho que nunca saberei).

As brincadeiras por lá se repetiram, se revezaram, mas tinha o diferencial da prefeitura. Diziam que, dentro do prédio da prefeitura tinha um fantasma de um juiz que foi morto lá dentro quando funcionava ali o fórum, há muitos anos.

(Mais tarde fiquei sabendo que não foi só um juiz que morreu naquele prédio, mas outras três pessoas também, inclusive o autor dos disparos contra o juiz, o promotor e um escrivão, um bandido que não aceitava estar preso e possivelmente ser condenado por seus crimes e preferiu assassinar seus algozes e ser morto há terminar seus dias na cadeia.)

No final da tarde, quando o sol já ia se retirando para seu merecido descanso, nós nos sentamos no murinho do entorno do prédio e ficamos nos desafiando para ver quem teria coragem de passar por uma das grades serradas e entrar no pátio só para ver se o fantasma aparecia. Ninguém se aventurou aquele dia, quem sabe no próximo domingo.

O sol terminou seu turno e junto ao crepúsculo novas e repetidas vozes chamaram das janelas e lá vou eu em busca dos meus chinelos (torcendo por encontrá-los, ou de certo levarei uma sova). Graças a Deus os encontrei jogados perto do poste, em frente à casa da Flávia (ufa!).

Fui subindo as escadas sem muitas forças, Lessie me espera na porta abanando o rabo, faço novo carinho em sua cabeça e me jogo no sofá,exausta. Ao olhar para cima deparo-me com minha mãe com uma toalha na mão. Ela não precisa dizer nada, eu é que respondo: “Já estou indo tomar banho, mamãe. Eu sei que o domingo acabou e já vai começar ‘Os Trapalhões’”.

sábado, 6 de março de 2010

MEU PRIMEIRO SELINHO


Simm!!! É o primeiro e me deixou muuuito feliz!
Recebi da Dany do Blog Meu mundo é assim, e estou repassando para as amigas blogueiras abaixo.

Regina do Blog Vidalida
Bel do Blog Quer ler eu deixo
Patrícia Daltro do Blog A vida sem manual
Karina do Blog Mafalda crescida

Sweet-lemmon do Blog Sobre livros
DaniS2 Aranha do Blog Meu mundo minha vida
Aline M. Gomes do Blog Memórias de uma ex-au pair
Cynthia Santos do Blog Balde, areia e balanço

quinta-feira, 4 de março de 2010

AFONSOCLAUDES


Nestas férias de janeiro apliquei um curso intensivo de 'afonsoclaudês', dialeto típico dos nativos desta magnífica cidade de cachoeiras, cadeia de montanhas, lugares aprazíveis e gente hospitaleira.

Tudo começou de forma despretensiosa, na verdade eu sequer tinha consciência de que não falava simplesmente português, e sim uma outra variação lingüística dela que é a nossa língua oficial brasileira. Na verdade, passei a perceber isso, quando conversava com uma pessoa especial que mora em outro estado.

Era apenas eu dizer uma de nossas palavras típicas afonsoclaudenses, que até então eu julgava palavras comuns em todo o território nacional, e ele disparava em uma risada gostosa e a conversa descambava para o ‘afonsoclaudês’. (Hum, agora fiquei com uma dúvida, será que ‘descambar’ também é um verbo que faz parte do nosso dialeto?!)

Não precisamos nos assustar, não falamos errado. Falar certo ou errado é bastante relativo (como tudo na vida) e vai além da gramática ou da concordância empregada no nosso linguajar. Aliás, a sociolinguística já diz que não há um modo certo ou errado de falar. O que falo pode ter sentido para mim, representar exatamente o que estou pensando naquele momento, mas para outros, pode não passar de uma piada, conter um erro gramatical impraticável, ou simplesmente não expressar significado algum.

Para mim, estou falando certo quando digo que vou ‘aninhar- me’ na cama para dormir, pois estou ‘pingando’ de sono. Para você o certo é dizer que irá se ‘acomodar’ por entre os lençóis, pois está com ‘muito’ sono.

Para mim, quando o ar fica pouco, pela emoção do momento, ou pela situação vivida, eu começo a ‘arfar’; você fica com a respiração ‘ofegante’ mesmo, ou, no máximo com ‘falta de ar’.

Se eu te peço para parar de me ‘futucar’, você dispara numa risada e diz que sequer sabe o que isso significa, corre para o seu bloquinho de notas e escreve o significado que nada mais é que ‘mexer’, ‘tocar insistentemente’, até ‘perturbar’.

Nestas horas as risadas são impossíveis de se conter. E ‘besteirenta’ que sou...
- Pera aí... ‘besteirenta’? Preciso anotar mais essa no meu bloquinho de notas de ‘afonsoclaudês’. Qual é mesmo o significado dessa?

É isso aí, a cultura também é feita de palavras. Palavras que dizem muito de nós, palavras que revelam nossos amores e temperam nossos sabores; palavras que desenham a nossa emoção, que esboçam nossos sentimentos e que eternizam nossa história. Sejam elas em prosa, em verso ou mesmo em retórica.

segunda-feira, 1 de março de 2010

RESENHA DE MARÇO - O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO



O tema para a leitura do Desafio Literário referente ao mês de Março é Clássico da Literatura Universal, e o meu título escolhido foi “O apanhador no campo de centeio”. Coincidentemente, dias antes de iniciar a leitura, o autor deste livro, Jerome David Salinger faleceu, o que me instigou ainda mais a lê-lo, tendo em vista os inúmeros artigos publicados a respeito de sua carreira e sua mais famosa obra, esta que aqui trato

Resenha do Livro: Um garoto com notáveis problemas psicológicos é expulso de mais um colégio e na trajetória antecipada para casa ele relata as angústias que acometem seu ser e o levam a uma depressão profunda, possível causa de todo o seu desajuste social, familiar e escolar.

O que achei do livro: Quando iniciei o Desafio Literário me propus a ser sincera em todas as etapas, por isso venho detalhando todos os passos, desde a publicação da lista, com justificativas de escolhas e, principalmente minha visão do livro lido.

Confesso que imaginei o texto bem diferente do que li. Assustei-me tremendamente com o linguajar utilizado por Salinger ao descrever a dor e o sofrimento da personagem principal. Foi o livro que mais demorei a ler em toda a minha vida, proporcionalmente ao número de páginas. Na verdade só terminei de lê-lo por obrigatoriedade do Desafio.

Entretanto, no terceiro quarto do livro, comecei a me compadecer do jovem Holden Caulfield, todas as angústias que ele sofria, a falta de compreensão de suas ‘diferenças’, a perda não resolvida do irmão, os conflitos naturais da adolescência que precisam ser acompanhados de perto, sobretudo pelos pais sob pena de que os filhos sofram demasiadamente algo que deveria ser ‘normal’.

O livro levou-me a refletir sobre a dor da depressão e como passamos a ver o mundo e as pessoas de uma forma mórbida e obscura; como muitas vezes nossas crianças, jovens e adolescentes podem apresentar problemas escolares por questões que podem ser facilmente resolvidas com um pouco mais de atenção, carinho, solidariedade, compreensão (desculpem, aqui é a Orientadora Educacional falando).

No mais, acabei gostando do livro. Não do texto em sim, mas do contexto, da mensagem passada por Salinger, da necessidade de olharmos com outros olhos não apenas adolescentes desajustados, mas todos aqueles que sofrem desse mal silencioso que acomete grande parte da população e que muitas vezes se esconde pela alcunha de rebeldia, antipatia, timidez, revolta, arrogância, e tantas outras com as quais nos deparamos no dia a dia.