sábado, 31 de outubro de 2009

HISTÓRIA DE UM BOM HOMEM


Há algum tempo, existiu sobre a terra um homem muito bom, justo e que conversava com as plantas. Este bom homem vagueava pelas florestas observando o verde, os frondosos troncos das árvores, os pássaros que cantavam em seus galhos e maravilhava-se com tudo aquilo.

Sentia-se bem, em paz e realizado entre as árvores. Ele lhes fazia companhia e elas lhe davam amor, atenção e compreensão em todas as suas dúvidas, recorrentes de sua jornada sobre a terra.

Entretanto, houve um dia em que alguém disse a este bom homem que ele poderia ganhar muito dinheiro, juntar uma grande riqueza e conquistar o mundo se derrubasse e vendesse aquelas árvores.

Por algum tempo o bom homem titubeou, haja vista que amava aquelas plantas e elas o tinham em grande estima. Mas aquele alguém disse que seria apenas por um tempo, que ele não destruiria todas as árvores e que no final sempre restariam outras árvores para ele conversar, receber e dar atenção e carinho e que conhecer o mundo valeria à pena.

Entusiasmado pela possibilidade de conhecer o mundo, o bom homem iniciou sua jornada sem perceber que estava magoando aquelas que mais amava e, em contrapartida, que mais o amavam em toda a sua vida.

Durante dias, semanas, meses e anos o bom homem trabalhou naquelas matas derrubando as árvores mais frondosas. Sua ânsia em conhecer o mundo era tanta que ele sequer ouvia o clamor de suas amadas amigas que lhe chamavam a atenção para o despautério que cometia contra elas. Quanto mais elas chamavam sua atenção, mostravam-lhe seus erros, mais e mais ele usava o seu machado para machucá-las e derrubá-las ao chão, visando apenas o objetivo final de conhecer o mundo.

Então, finalmente chegou o dia em que o bom homem conheceria o mundo. Juntou seus pertences e partiu em direção à sua jornada. Percorreu ruas, monumentos, construções erguidas pelos homens e montanhas, mares e vales, construções estas feitas por Deus. Tudo lhe era maravilhoso e enchiam seus olhos, mas parecia faltar algo que ele, em seu afã de conhecer o mundo, não conseguia identificar o que era.

Quando entrou num imenso jardim que fazia parte do mundo, o bom homem encantou-se com as belíssimas as árvores que ali encontravam-se. Tentou conversar com elas, mas elas pareciam não falar a mesma língua que ele e ele não as compreendia, tão pouco elas conseguiam expressar-se para ele e mostrar-lhe qualquer resquício de amor ou mesmo carinho.

Um aperto profundo tomou conta do coração do bom homem e ele compreendeu imediatamente o que faltava em sua jornada. Num impulso único, reuniu novamente os parcos pertences que lhe sobraram de sua jornada e retornou à sua floresta. Quão grande foi sua surpresa quando percebeu que esta já não mais existia. Em seu lugar jazia um imenso deserto com tocos, restos mortais daquelas que eram seu único e verdadeiro amor. Seu lar já não mais existia.

O silêncio que tomava conta daquele lugar era incomensurável e tão dolorido que o coração do bom homem chorou lágrimas de sangue.

Por um instante, ou vários, ele tentou restaurar o que havia perdido. Mas foi em vão. Não tinha como repor as belíssimas árvores que havia destruído. Suas amigas, amadas, amantes. Restava-lhe apenas reconstruir a floresta, replantando todas elas, cultivando-as com amor, carinho e dedicação, mas ele não sabia se ainda tinha forças para essa empreitada.

Perdido, desolado e sozinho, retornou ao mundo e pôs-se a vagar por entre aqueles lugares tão desejados anteriormente, na esperança de que pudesse encontrar um só amor que substituísse aqueles tantos perdidos com sua ignorância. Entretanto, quanto mais vagava, mais sozinho se sentia e ainda mais arrependido de não ter ouvido a voz dos seus amores enquanto ainda havia tempo.

sábado, 24 de outubro de 2009

BANCO DE RESERVAS

O que fazer quando não se tem o que fazer? Não sei dizer...

Essa vida corrida, cheia de idas e vindas, de encontros e desencontros, meio que deixa-me perdida quando prepara a surpresa de me deixar no banco de reservas, à espera de algo acontecer.

Esperar. É o que se deve fazer sentada no banco de reservas. Esperar e ver o jogo rolando lá no campo. Correria do restante do time. Gritos estridentes do treinador que teima em querer ser ouvido, e atendido, nesta loucura que é o jogo da vida. Olhar o juiz correndo de um lado para o outro carregando, além do apito e dos cartões, a ilusão de que manda alguma coisa naquele campo.

Por um instante viajo em meus pensamentos e imagino como seria entrar neste jogo agora mesmo, o que faria para mudar o placar? Teria fôlego para acompanhar os demais jogadores? Colocaria a mão, ou o pé, na bola? Sentiria-me perdida, ou ajudaria a organizar a bagunça que impera no cotidiano deste jogo?

Meu olhar se encontra, por um mero instante, com o do treinador, cujos olhos brilhavam num azul profundo e incógnito. O que será que se passou por sua mente neste instante? Será que ele pensa em me colocar nesta partida, ou ainda ficarei de molho mais um tempo? Será que ele sente pena de mim por eu ter que ficar ali, sentada no banco, esperando a minha hora de entrar em campo, ou acha meu descanso neste momento necessário para recarregar as baterias, definir prioridades e refletir sobre mim mesma?

Ele desvia o seu olhar do meu rapidamente, como que prevendo meus questionamentos e querendo guardar só pra si o que o aflige e que me deixa ainda mais incomodada em esperar sentada no banco de reservas da vida.



sábado, 17 de outubro de 2009

CONTO ERÓTICO


No silêncio da noite, ouvi sua voz chamar pelo meu nome na escuridão. Fui ao seu encontro e meu coração parecia não querer respeitar a velocidade dos meus passos, atropelado-os, tamanha era ansiedade de bater ao ritmo daquele que batia dentro do seu peito, de estar perto, de senti-lo dentro de ti.

À luz da lua, nossos corpos se tocaram numa profusão de braços e abraços que não permitia a distinção de corpos, almas, vozes, pensamentos.

Suavemente suas mãos percorriam meu corpo e faziam minha pele alva se arrepiar com o calor proveniente delas. Suadas, firmes, diretas, como se houvesse nascido para aquele ato único de prazer. Meus cabelos escorriam por entre seus dedos e eram acariciados como se fossem fios delicados de ouro.

Sua boca quente e macia entreabria-se num beijo doce e suculento que despertaram desejos e sensações regadas pelo suor do seu corpo. Seus lábios tocavam minha pele e esta vibrava com o prazer provindo de ti. Meu corpo balançava-se de amor.

Entre emoções distintas, meu corpo foi entregando-se ao seu. As sensações foram tornando-se cada vez mais intensas e efusivas; seu cheiro foi impregnando-me pouco a pouco, tomando conta dos meus pulmões, confundindo meu olfato, como que marcando minha alma com o aroma característico do seu amor.

Após uma explosão de amores, cores, aromas e sensações, suavemente meu corpo foi voltando ao seu estado característico, banhado de amor, literalmente, mas jamais voltara a ser como antes; reflexo da sua passagem não só pela sua extensão, como por todo o meu ser.

ÉTICA E DIPLOMA


Li alguma coisa estes dias relacionada à ética, que no futuro terá mais valor que um diploma de Graduação. No momento, achei muito interessante, mas só isso. Não parei para refletir a respeito.

Hoje, um tanto menos concentrada nos inúmeros afazeres cotidianos, entre pessoas de diversas características, totalmente relaxada e avessa a problemas maiores, parei para analisar sobre a banalidade das coisas, das pessoas, dos acontecimentos recentes em âmbito mundial, nacional e, por que não, regional.

Não sei bem se o termo certo a ser empregado neste debate é ética, mas sinto realmente que está faltando algo na humanidade. Não quero comparar o tempo de hoje com o tempo de ontem, e nem sequer traçar previsões para o tempo de amanhã, só quero realizar uma simples análise do que tem se tornado a sociedade atual, através das pessoas que a compõem. Haja vista, que acredito que os problemas sociais que enfrentamos hoje sempre existiram, só que eram mais velados, menos divulgados, menos escancarados, ou seja, mantidos sobre o silêncio ético...

Observo no meu dia a dia que as pessoas não se preocupam com convenções. Não que eu as ache necessárias para estruturar uma sociedade, mas é que o acaso tem se tornado regra e não mais “acaso”. Os indivíduos não se preocupam com o próximo e com o que pode lhe fazer bem ou mal, proporcionar amor ou ódio, prazer ou revolta. O máximo que se faz diante da notícia de que um indiozinho de 09 anos teve a cabeça queimada inescrupulosamente por um indivíduo semelhante a ele, é lançar uma exclamação de lamento.

“Simples assim”: se não conheço meu próximo, não preciso me importar com ele.

O ser humano é o único capaz de deixar seu semelhante morrer de fome, frio, sede, sem abrigo, sem as mínimas condições de vida. O máximo que a maioria destes seres humanos faz pelos seus semelhantes é se contristar, entristecer-se, resignar-se com sua miséria. Ações, bom, ações isso é com o setor Público, afinal colocamo-los lá para isso, ou não?

Vou, então, concordar com quem declarou que num futuro próximo a ética terá mais valor que um diploma de Graduação, bem como o respeito ao próximo, a cidadania, o amor desmedido e desinteressado, a compaixão e o prazer em servir ao próximo, mas aquele próximo que nem conhecemos.

O único problema que vejo nesta perspectiva futura é designar aquele, ou aqueles que transmitirão os valores éticos tão imprescindíveis a esta sociedade da qual somos parte integrante hoje.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

UM POEMA PARA DEUS


Tenho uma amiga especial que me disse que é muito bom termos amigas inteligentes. Fiquei meio constrangida com o comentário, porque ela se referia a mim. Hoje faço minhas as palavras da Bia, a uma outra amiga especial: "Delminha, é muito bom ter amigas inteligentes!"

ELE É

O Pão da vida para os famintos
A Porta para os renegados
O Caminho dos perdidos
É a Água para os sedentos
A Verdade para os desiludidos
É o Bom Pastor, o Conselheiro
Deus Forte, sustentador,
o Príncipe da Paz.
Só nEle há vida,
porque Ele é a própria Vida
Ele é a Videira Verdadeira
É a Rocha eterna
é a fortaleza, a segurança,
só nEle há esperança.
Ele leva as cargas, alivia,
é eterna e doce companhia.
Ele é e Ele basta.

Ele é Jesus, o Messias,
O Prometido que haveria de vir.
É o libertador,
o Mestre, fonte de toda sabedoria
o Rei dos Reis, sobre tudo e todas as coisas constituído
o Filho do Homem, descendência de Davi,
o Filho de Deus, co-autor da Criação
Ele é o Verbo vivo que desceu do céu
é o Cordeiro
ao mesmo tempo Sacrifício e Sacerdote
é o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim
é o Redentor, o Amor de Deus encarnado
É o Salvador, o Senhor amado
Ele é a Cruz, ele é a Luz,
Ele divide a história,
é o Ùnico digno de glória,
honror, louvor e adoração.

E eu?
Quem sou eu sem tê-lO comigo?
O que faço se Ele não me orienta?
Como vivo sem Ele pra me dar a Vida?
Para onde vou sem o caminho?

Nada sou, nada faço, em vão me esforço,
Sou pó, poeira, me perco em vãs filosofias e ilusões.

Preciso de Ti, Jesus!
Do teu amor, Teu sacrifício, Tua companhia
Preciso do Teu poder em mim
Quero achar o teu querer
Me envolver no Teu abraço
Me aconchegar no Teu colo
Quero Tua direção, Tua bênção, Tua virtude
Me ensina a seguir Teus passos,
a refletir a Tua luz
a entender a Tua vontade
Quero falar tua língua
ser testemunha Tua
Semear tua Palavra.

Preciso de Ti, Jesus.
Seja meu Norte, meu Sul
Minha razão, meu sentido,
Me faz conforme o Teu coração
e herdeira do Teu céu!

Adelma Lúcia

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

PROFESSORINHA


Ela acordava cedinho todos os dias, num horário em que se não houvesse relógio, não daria para saber se era dia ou noite apenas por olhar o céu. Pulava da cama meio que a contragosto, fazia um café bem forte, cortava um pedaço de pão, untava com margarina e comia ali mesmo, de pé, encostada na pia da cozinha.

Trocava de roupas rapidamente, escovava os dentes, passava um pente pelos cabelos negros e encaracolados, pendurava a bolsa no ombro esquerdo, acendia o primeiro cigarro do dia e descia as escadas ainda sobre a luz dos postes de iluminação pública. No ponto de ônibus, esperava uma boa alma que lhe desse uma carona para que pudesse chegar ao seu destino.

Já em seu ambiente de trabalho, o sol teimava em ainda não dar o “ar da sua graça”, dirigia-se então à parte de trás do prédio e avaliava se a lenha para o fogão estava muito úmida do sereno da noite, ou se seria possível acender o fogo com aquelas mesmas. Escolhia algumas e se dirigia à cozinha. Ajeitava-as delicadamente na “boca” do velho fogão a lenha, juntava algumas sacolas plásticas e riscava o fósforo, aproveitando para acender o terceiro ou quarto cigarro do dia.

Sobre a 'trempe' do fogão colocava o pesado tacho cheio de água para ferver, em outro buraco, mais atrás, uma velha chaleira para fazer outra garrafa de café. Enquanto a lenha e a água aqueciam, as crianças começavam a chegar. Não havia rituais de entrada, elas chegavam com seus caderninhos dentro das sacolas de açúcar, encontravam seus lugares e iam sentando, sem cerimônia, e abrindo as atividades de casa, passadas para eles no dia anterior.

A essa altura do dia, o quadro de giz já estava cheio de atividades para as quatro séries que estudavam naquela pequena sala de aula sem energia elétrica. No canto esquerdo de quem entrava na sala de aula, podíamos ver no quadro de giz as atividades para a primeira série, aí seguiam-se as atividades da segunda, terceira e quarta.

A disposição das carteiras na sala de aula também eram mais ou menos assim, com exceção da segunda série que sentava-se em bloco no meio da sala e da quarta que sentava em sequência na parede perto da porta. Em todas as paredes podíamos ver cartazes dos mais diversos temas, além de um grande plástico transparente com bolsas para livros de literatura. Em cima do quadro os cartizinhos do método Dom Bosco com o ta-te-ti-to-tu e os demais pedacinhos e suas famílias, além dos numerais ordinais, cardinais e romanos. O cartaz com a tabuada de multiplicar estava estendido com letras e números bem grandes numa das laterais da sala para que todos os alunos pudessem vê-la e não errar nas operações.

De volta à cozinha despejava na água fervente do tacho uma sopa pré-pronta, temperada e com carne de soja. A sopa tinha um aspecto azulado, meio estranho, cheiro forte, mas para a maioria daquelas crianças seria a primeira (e talvez a melhor) refeição do dia.

Um a um os alunos iam chegando e entrando. As vozes dos mais animados se faziam ouvir pela pequena escola, que se consistia de uma sala de aula, uma minúscula cozinha, dois banheiros ainda menores, uma pequena área com um lavatório e um quintal.

O quintal era um detalhe à parte. Mesmo sendo a única adulta naquela escola, responsável por ensinar os pequenos a ler, escrever e contar, fazedora de sopas de aspectos estranhos e faxineira de plantão, ela transformou aquele pequeno pedaço de chão em um pátio limpinho, um jardim com flores e um pinheiro para enfeitar no natal e uma belíssima horta com legumes e verduras de todas as espécies que serviam, também, para melhorar o aspecto das sopas pré-prontas.

Depois que servia a merenda aos alunos no recreio, cada qual lavava seu próprio prato e ela lavava apenas o grande tacho de sopa. Enquanto os alunos brincavam um pouco e faziam a digestão, ela terminava de arrumar a cozinha, certificava-se de que o fogo do fogão havia apagado e acendia mais um cigarro com a brasa da lenha que ainda restava.

No final da manhã, quando os alunos já haviam realizado todas as atividades previstas em seu plano de aula e já haviam ido para suas casas, ela recolhia os livros que eles haviam deixado nas carteiras, passava uma vassoura no chão de tacos de madeira, recolhia o lixo e jogava no fogão para ser queimado no dia anterior, molhavas as flores do jardim e as plantas da horta, fechava as janelas da sala, passava a tranca nas portas, pendurava a pesada bolsa no ombro esquerdo e seguia para a estrada, acendendo mais um cigarro, na esperança de outra boa alma lhe dar uma carona de volta para casa.

Não sei como dava conta de tudo aquilo, mas era fantástico ver as crianças todas lendo, escrevendo e realizando as quatro operações com destreza, além, é claro, dos conteúdos de ciências, geografia, história e civismo, porque ela achava importante comemorar as datas cívicas, mesmo lá no meio do mato onde ficava localizada a sua escolinha.

E assim foi durante vinte e dois anos, até que, por uma aposentadoria antecipada ela abandonou as caronas na madrugada, as lenhas molhadas, os tachos de sopa, o método Dom Bosco, os meninos das mais variadas formas que a chamavam de tia e o prazer de ensinar simplesmente para ver aprender.

Feliz Dia dos Professores àqueles que o são por amor à profissão.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

UMA CONVERSA SEM PALAVRAS



Sentamos uma de frente para a outra, olhando profundamente através das janelas da alma de cada uma, sem ao menos estarmos no mesmo ambiente, no mesmo espaço físico, e iniciamos uma dura conversa onde muitas coisas precisavam ser ditas, muitos assuntos dolorosos a seriam discutidos, muitos pontos obscuros a esclarecerem-se, muitas dúvidas a evidenciarem-se.

Naquele momento por tantos outros adiados, iniciamos uma conversa sem palavras, daquelas que dizem tudo o que precisa ser dito sem qualquer alterações no tom de voz, sem contestamentos, sem discussões, sem desgastes aparentes, porém, em momento algum, sem emoções.

As emoções daquela conversa sem palavras estavam latentes há muito tempo entre nós, mas eram escondidas, tanto por uma quanto pela outra, numa tentativa inútil de que o adiamento desta fizesse com que os problemas que as denotaram se resolvessem por si só e relegassem ao esquecimento toda a dor que vinha sendo escondida no recôndito de nossas almas. Eram, ainda, tão presentes estas emoções que poderiam ser tocadas apenas com um esticar de braço ou vistas comum olhar mais atencioso para os olhos uma da outra, tão densas que poderiam ser cortadas com uma faca e distribuídas entre ambas.

Os sentimentos ficam guardados em nossos corações esperando apenas o momento de aflorarem. Às vezes pensamos que eles possuem uma conotação, mas quando nos damos conta do real, eles se mostram como totalmente adverso ao que imaginávamos, esperávamos, desejávamos, nós surpreendendo e assustando mais do que supúnhamos.

Pouco a pouco, no decorrer daquela conversa sem palavras, as verdades que nos angustiavam nos últimos meses foram tomando corpo e forma e, na sua imensidão, tomavam mais espaço do que prevíamos, ocupando todo o ambiente ocioso da nossa mente, tomando conta também de nosso coração já há tanto machucado e ferido pela incompreensão e ignorância. O inevitável se aproximava e, mesmo não sendo esta a nossa vontade mais profunda, tomamos a decisão que menos queríamos, mas que parecia a mais adequada para as atuais circunstâncias.

Cada qual no seu ambiente, levantamo-nos silenciosamente e nos direcionamos cada uma de volta à sua vida, sem palavras, sem sons, acompanhadas apenas pelas lágrimas da dor da distância que se apossava de nós naquele momento nefasto e obscuro da nossa mais bela, doce e breve amizade.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

OUTRAS COISAS...


Tem coisas que definitivamente não nasceram para mim, ou eu para elas; como preferir. Como eu e o futebol das quartas. Que coisa mais chata acabar com a novela bem no meio (se bem que esta novela nova é um saco). Não poderiam colocar um humorístico, ou um telejornalismo mais elaborado, ou mesmo um daqueles enlatados americanos que eu adoro?

Engraçado que estou aqui sem fazer nada, a TV do meu quarto não tem parabólica, então só pega (pega, pega, cá, cá... rsrs) três canais, dois estão transmitindo futebol e o outro, novelas, que são bem piores que este joguinho aqui.

Para falar a verdade nem é tanto um joguinho... Em apenas 22 minutos de jogo foram 04 gols, dois de cada lado (imagino os aficionados por futebol como devem estar eufóricos agora, na frente de seus aparelhos de TV, achando que este promete ser o melhor jogo da temporada).

Eu na verdade, tento fazer uma análise minuciosa desse povo futiboleiro, começando por aquela figura afetada, vestida de amarelo limão, com um baita apito na boca, correndo no meio do campo. O cara fica se mostrando toda hora que acontece uma falta; se estica para todos os lados, balança os braços, gesticula, faz caras e bocas... será que ele sabe que neste espetáculo ele não é o ator principal?

Bom, e eu, fico por aqui, deitadinha no meu cafofo, com meus adoráveis 04 travesseiros (humm...), só apreciando as figuras, os corpos bem definidos, as coxas mais que bem torneadas, tórax, abdômen, etc, etc, etc. E olha que isso é mais fácil que entender de táticas de jogo, opções de banco de reservas, regras para cobranças de faltas, escanteios e laterais.

E ainda tem o indivíduo que narra o jogo que fica dando informações inúteis, tipo: o jogador que sofreu um “encontrão” no campo não cortou o supercílio como parecia anteriormente, e, sim, abriu uma brecha abaixo do olho esquerdo (tadinho, e ainda teve que voltar para o campo e continuar correndo pra lá e para cá, acho que esta profissão também não é muito fácil); falou também algo sobre o significado no dicionário de drible e outra palavras com ação parecida, mas não deu para pegar essa, também não dou conta de tudo, deve ser falta de hábito.

Outra coisa que observei é que de uns tempos para cá os jogadores tem nome e sobrenome. Antigamente eles tinham apenas apelido: Pelé, Zico, Nenê, Dida, Fio, dentre outros. Agora são: Júlio César, Ronaldo Angelin, Dênis Marques, Mário Sérgio, e tem até um Russo (Bulgaro?), um tal de Petcovit... Ai, ai...

Fala sério, vou desligar esta TV e o computador e vou me entregar de vez ao sono que não tarda por vir.

A propósito, no tempo que escrevia este texto, fizeram outro gol. Agora são 05, só no primeiro tempo. É, parece que vai ser mesmo um jogão...

sábado, 3 de outubro de 2009

LIÇÕES DE VIDA II


A vida nos ensina muitas lições. Cada dia que vivemos, se tivermos a sensibilidade de observarmos, aprendemos alguma coisa, ou muitas coisas. Por exemplo: quando crianças pequenas, aprendemos que chorando temos comida, acalento e nos livramos do incômodo das fraldas molhadas.

Um pouco maiores descobrimos que se não formos bem nas provas, ficamos de castigo e levamos uma sova. Que Papai Noel e Coelhinho da Páscoa não existem. Que não somos o centro do Universo. Que não devemos ficar no caminho de pedras que são roladas, porque elas podem cair sobre nossos pés e amassar nossos dedos.

Com 13 ou 14 anos descobrimos que a escola pode nos ensinar muito mais que os conteúdos curriculares. Que precisamos aprender a separar os problemas por ambientes. Que os meninos são lindos, mas aprendem muito cedo, também, a serem cafajestes.

Aos 16, 17 aprendemos que o primeiro beijo nos deixa com as pernas bambas. Que o primeiro amor não será para a vida toda. Que mulheres bonitas podem atravessar a rua a qualquer momento se o motorista do carro que vem a frente for um homem. Que existem amigos apenas “de copo”. Que às vezes o papai tem razão.

Lá pelos 20 descobrimos que com jeitinho, os homens fazem tudo o que queremos (mas isso sempre sai muito caro depois). Que se apaixonar e jurar que é para sempre é a melhor coisa do mundo. Que ouvir a mesma música melosa por horas e chorar por amor com uma amiga e uma taça de vinho é muito bom. Que os irmãos não nos amam tanto como deveriam. Que o natal pode, também, ser triste e solitário.

Depois que casamos temos que aprender que a vida continua. Que a Terra não para de girar só porque encontramos nosso príncipe encantado. Que crianças continuam nascendo. Que a mente não para de funcionar. Que os sentimentos mudam (na verdade isso é só uma questão de tempo). Que devemos continuar lindas e que a concorrência permanece a mesma.

Lá pelos 24, 25 aprendemos que filhos nem sempre são aqueles que nascem da gente. Que carga genética não é tudo afinal. Que o amor verdadeiro se constrói a cada dia. Que mães e filhas podem ser amigas e compartilharem segredos. Que a vida é uma caixinha de surpresas, e algumas, divinas.

Com 30, 31 (alguns antes), aprendemos que uma hora ou outra (ou, de uma hora para outra, isso depende), os príncipes encantados se transformam em sapos. Por mais que queiramos, estamos sempre sozinhos e precisamos contar é conosco mesmos. Que os pais não são eternos, por isso precisamos aproveitar todas as oportunidades e esquecer as rusgas que tivemos com eles enquanto adolescentes. Que a vida passa rápido demais e as dores (graças a Deus!), também.

Aos 33, 34, aprendi que nada melhor que o tempo para nos mostrar a verdade. Que não há tombo do qual não possamos levantar. Que existem amigos verdadeiros. Que a saudade doi (muito!). Que “Deus nos envia anjos pra nos ajudar”. Que nem todo sapo pode se transformar em príncipe. Que as metáforas podem nos dizer muitas coisas. Que Deus está no controle.

Bom, sei que o aprendizado não parou por aqui (e isso é fantástico!). Sei também que muitas das coisas que só aprendi agora, eu deveria ter percebido há algum tempo, pois isso evitaria muito sofrimento. Mas, tem uma outra lição que já aprendi há alguns anos, mas que a reforço sempre: não há aprendizado sem sofrimento (infelizmente) e que esses, são os que a gente nunca esquece.