Um dia desses, de súbito, minha filha me perguntou onde estavam as borboletas. Fiquei sem resposta. Olhei em derredor e também não as vi. Ela então me disse: “Acho que acabaram com todas...”. Tristemente completei: “Acho que sequer deixaram que se transformassem em crisálidas.”.
Quando freqüentava a Educação Infantil, naquele tempo chamada de Jardim, um certo dia fui buscar (ou guardar, não me lembro mais) um trabalhinho no varal e encontrei, atrás de outros trabalhinhos, um objeto estranho, num formato em espiral, cor de sujo. Não descrevo a textura porque não tive coragem de tocá-lo.
Estupefata, mostrei “aquilo” à professora que doce e meiga, como deveriam ser todas as professoras, em especial as de Educação Infantil, nos explicou que ali adormecia e preparava-se para nascer uma belíssima borboleta. Como não acreditamos na veracidade dos fatos, a professora pacientemente nos explicou o ciclo de vida das borboletas e colocou a minha folha (com meu trabalhinho) num lugar mais protegido, onde poderíamos acompanhar o seu nascimento.
Todos os dias íamos lá olhar se a borboleta já estava “acordando” e nada. Aos quatro anos de idade, impossibilitados de acreditar que lagartas estranhas formavam casulos e de lá saíam majestosos insetos, já começávamos a pensar que a professora estava enganada, que aquele objeto encontrado no meu trabalhinho era excremento de algum outro inseto, ou mesmo sacanagem de um coleguinha.
Não vimos a borboleta romper o casulo. Este momento se deu quando estávamos em casa, também dormindo. Encontramos o belo inseto na sala de aula no outro dia. Ficamos maravilhados com todas as suas cores, seu bater de asas, seu voar que mais parecia um balé nos ares.
Com bastante delicadeza, a professora tomou-a nas mãos em concha e fomos soltá-la no pátio, onde voou, felicíssima, tal como nós, de flor em flor.
Este episódio ficou retido no turbilhão da minha mente, juntamente com o cheiro da massinha na sala do Jardim, ou do gosto da merenda na lancheira, a textura do uniforme xadrezinho vermelho com meu nome bordado no bolso e o elástico que levávamos para pular nos intervalos. De lá de dentro só saiu agora, quando olhei em volta e não vi as borboletas do jardim.
Simplesmente lindo!
ResponderExcluirPalavras que sensibilizaram meu coração...
Também lembro do cheiro de massinha. Mas lembro mais do som das bolinhas de gude batendo umas nas outras; da mochila "Risca" a qual todos escreviam seus nomes com canetinha; do tabuleiro de botão e a alegria em marcar um gol; do cheiro de madeira do pião e da textura do barbante que, ao ser arremessado, zunia no chão de terra vermelha da escola...
Good times ^.^