domingo, 19 de julho de 2009

10%


Todas as vezes que contemplo o horizonte, dou-me conta de minha pequenez, de minha insignificância diante da magnitude do Universo e do que ele representa. É como se uma tela fosse pintada em torno de mim e eu não passasse de um pontinho escuro (ou claro) dentro dela.

10%! É o que somos, representamos, possuímos, nos agarramos...10%...

Ou seria menos? Ou seria mais? 10% de quê? Da vida? Da morte? Da Eternidade? Da escuridão? Das alegrias? Dos sofrimentos? Dos prazeres? Das dores? Das vitórias? Dos sacrifícios? Das saudades? Das escolhas?!

Por mais que tenhamos em nossas mãos as possibilidades do livre arbítrio, não somos nós que decidimos em cima dos 10%. Talvez tenhamos decidido por chegar até ele, mas não em como sair dele. Ou será que nem isso? Na verdade o livre arbítrio sempre foi uma questão muito duvidosa em minha vida...

Aliás, o que seriam 10% de uma vida? Porque, por mais que tenhamos sonhos, planos, objetivos a alcançar, metas pré-estabelecidas em nossas vidas, como saber o que, ou quanto significa 100%?

O vovô Henrique, se perguntado no seu dia derradeiro qual seriam seus 10%, diria: "quando ainda não conhecia sapatos ou calças, quando tinha apenas duas mudas de roupas, quando aprendia a ler as primeiras letras (em alemão) na Bíblia, lá pelos meus 8 anos e 9 meses"!

Já o Cleidson diria: "não me lembro quando foram meus 10%, mas tenho certeza que já esquentava a cabeça daqueles que me amavam... lá pelos 2 anos e 4 meses"...

Mamãe diria: "passava fome, apanhava de cabresto de burro, cuidava dos irmãos mais novos, tinha medo de gente, achava que bola de soprar era a coisa mais maravilhosa que uma criança poderia ter (mas que durava muito pouco, como todos os prazeres, aliás)... lá pelos meus 6 anos".

E eu, o que direi? não sei...

Olhamos a morte com olhos taciturnos, porque ela sempre nos deixa um vazio que jamais será preenchido. Mas deveríamos olhá-la, também, como um recomeço, uma nova oportunidade, não para nós, mas para aqueles que partem, pois eles deixam de ser apenas um pontinho escuro (ou claro) no meio da tela, para se tornarem parte dela, ou, ela própria! O horizonte em sua imensidão.


Dagoberto, eu sei como a perda dói, mas não temos domínio sobre elas, apenas podemos nos conformar com a certeza de que estão iniciando uma vida melhor que a nossa e nos resta viver esta vida com aqueles que amamos e que nos amam. Pode contar comigo nesta jornada.

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