sexta-feira, 2 de abril de 2010

VIDA E MORTE


Sou mãe, mas não sou progenitora, então não sei o que é “dar a luz”, fazer nascer uma nova vida. Já vi nascer outros seres e até ajudei alguns deles a virem ao mundo. Eram animais irracionais, cães e gatos, vidas desprovidas de consciência que despertavam para o mundo.

Também nunca tive em minhas mãos uma vida humana que se esvaia. Não assim nos últimos momentos, últimos minutos, últimos segundos. Mas, em consonância com a vida, tive em minhas mãos, nos momentos finais de morte, uma vida animal, que poderia ser irracional, mas conhecia-me, reconhecia minha voz e reagiu a ela quando a ouviu. Foram três suspiros fundos, profundos grunhidos e junto foi-se sua alma (se é que um animal irracional possui uma). Se não havia alma para partir, partiu sua última chama de vida ou, apagou-se.

Diante desta cena, volto-me aos meus eternos questionamentos: o que somos? O que representamos? Para que somos? Se nosso fim é esse, sem discussão, por que sofremos tanto em busca de algo que em nada modificará o momento derradeiro? Um, dois, três suspiros e nada mais...

Quando me vi frente a frente com a morte, há alguns dias, tive medo. Agora compreendo que não era “ela” que eu temia, mas sim o que deixaria, o que me propus e não dei conta de realizar, os planos incompletos, os sonhos desfeitos, a vida não vivida.

Por mais que pareça egoísta, intratável, arrogante, grosseira, não pensei em mim naquela hora (como não penso nunca). Talvez seja esse o motivo do vazio que a cada dia toma conta de mais uma parte de mim.

Morte, vida, reflexo do que somos, sombra do que gostaríamos de ser, imagem translúcida do que achávamos que seria. Viver esta vida incompleta, cheia de dissabores, permeadas de pedras que não permitem construir nem pontes nem escadas, apenas vão se amontoando e formando barreiras, viver esta vida não pode ser propósito de qualquer ser vivo, seja ele racional ou não.

Viver deve transpor as barreiras do que é visível aos olhos, audível aos fracos ouvidos humanos, sensível ao mais puro sentimento que constitui os seres. Para tanto, proponho arregaçar as mangas, seguir em frente e tentar tocar o horizonte com os dedos largos e mãos limpas de quem não teme a própria vida, ou morte.

Um comentário:

  1. Esses questionamentos (o que somos? O que representamos? Para que somos?) são dignos de uma vida inteira de pensamento religioso e/ou filosófico. Ou duas vidas. Três, quatro...
    Bem, depois de 2 milênios é certo que ainda não temos resposta para isso, pois, por se tratar de um "além de", foge de nossa compreensão. E não há faculdade mental que detenha a verdade. Tudo que se diz são meras especulações...

    Mas, gostei muito de sua positiva proposta: "arregaçar as mangas, seguir em frente e tentar tocar o horizonte com os dedos largos e mãos limpas de quem não teme a própria vida, ou morte". Vou tentar segui-la a risca em todos os momentos de minha vida :-D
    Tenha um excelente dia!
    Bjs, Robson.

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