quinta-feira, 11 de novembro de 2010

PAISAGEM CULTURAL


Afonso Cláudio tem quase 120 anos de emancipação política, fora os tantos outros anos que os desbravadores desta terra lindíssima por aqui viveram sem que se marcassem o tempo. 120 anos é uma vida. E quantas histórias? Entretanto, se as histórias não forem contadas, elas acabam sendo esquecidas, principalmente aquelas que não são escritas em papel e sobrevivem nas crenças de seu povo, no seu comportamento, nas suas regras morais, nos seus costumes e, por que não, nas fachadas de suas construções que são as paisagens culturais de uma cidade?

Nasci e cresci nessa cidade. Aprendi a gostar dela mais do que qualquer outra. Gosto de seu aparente sossego, sua beleza bucólica, sua estranheza com o que não lhe pertence, ao mesmo tempo em que abraça o estrangeiro que por aqui aporta e o faz sentir-se em casa. Gosto de acordar pela manhã e ouvir os pássaros cantando do lado de fora. Gosto de olhar para o céu à noite e ver milhões de estrelas sem que as luzes das ruas atrapalhem. Gosto de receber bom dia de pessoas que não conheço, mas que sabem de quem sou filha ou neta.

Contudo, há algo que me incomoda por aqui. Por mais que me esforce, busque, pesquise, cavuque fósseis de um tempo nem tão remoto assim, percebo que Afonso Cláudio tem uma história pobre. Não pobre de acontecimentos, porque esses foram inúmeros, incontáveis e ricos em detalhes pitorescos daqueles que só acontecem por aqui, mas pobre em memória, em registros. São poucos os documentos escritos que mostram a nossa história. Os costumes, as crenças e os valores que também formam a nossa cultura; esses estão se perdendo a cada geração que renova a vida da cidade. O que resta, pouco ou nada é divulgado aos jovens que crescem sem saber a grandiosidade da narrativa do solo em que pisam.

Há algum tempo ouvi dizer que demoliriam o Hotel Custódio e construiriam ali um luxuoso e moderno prédio. A princípio não me dei conta do que isso significava, mas quando vi o espaço vazio na esquina da Praça Aderbal Galvão, tive a certeza de que mais um pedaço da nossa história, nossa cultura construída com pedras, massa e tijolos, estava sendo destruída.

Movida pela melancolia daquele espaço vazio, vaguei pela cidade em busca de outras edificações que contassem um pouco dos nossos 119 anos de história e, tristemente constatei que pouquíssimas ainda resistem às construções modernas. Nossa história tão pobre em relatos escritos está a cada dia ficando ainda mais pobre em paisagem cultural.

Não levanto aqui uma bandeira contra a modernização de Afonso Cláudio, quero apenas que repensemos a preservação de nosso patrimônio cultural em todos os âmbitos que ele se apresenta, cientes de que um povo sem história é um povo mais pobre culturalmente e que para construir o futuro não precisamos, necessariamente, destruir o passado, muito pelo contrário, precisamos preservá-lo e recontá-lo às gerações vindouras para que elas valorizem o esforço que fazemos para construir esta terra que lhes é berço, progenitora e celeiro de grandes mentes, obras e histórias, cujas raízes alicerçam muitas lidas, lutas e vitórias.

2 comentários:

  1. Vc está certa, a história precisa ser preservada. Se vc já tem a visão, agora que tal ir à ação? Fotografe, colha informações, coloque num blog específico, e quem sabe depois publica um livro???

    Bjoooo

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  2. Boa ideia! Não havia pensado nisso, mas vou pensar a partit de agora. Obrigada!

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