domingo, 9 de agosto de 2009

PAI


Ele tinha 39 anos quanto ela nasceu. Não era tão pequena assim como ele imaginava, não possuía um fio de cabelo sequer e como chorava... gritava tanto, que mesmo não tendo nenhum conhecimento médico e/ou científico, ele tinha certeza de que ela não possuía nenhum problema nos pulmões.
Por mais que esta não fosse sua primeira experiência, ele sabia que esta seria única e que a partir daquela madrugada úmida, sua vida não seria mais a mesma; que as noites de sono não seriam mais tão tranqüilas e que a maioria dos homens, principalmente os mais jovens, não seriam mais vistos com bons olhos.
O tempo foi passando e aquela criaturinha frágil, sem cabelos e sem dentes, foi ganhando cabelos dourados como o sol e dentes brancos como algodão, que se enfileiravam num sorriso todas as vezes que ele olhava para ela e fazia uma gracinha qualquer.
O fato de ser uma menina não foi nenhum empecilho para que se tornassem grandes companheiros das mais diversas jornadas possíveis. Quando ela já andava e falava pelos cotovelos ele a levava para pescar. Ele entrava no rio com a tarrafa (naquela época ainda era permitido e havia muitos peixes no rio) e ela ficava na margem, segurando o saco e aguardando os peixes.
Quando precisavam atravessar para a outra margem, cujo rio ainda possuía muita água e correnteza, ele colocava a tarrafa num dos braços, ela se pendurava em seu pescoço e lá iam eles rio afora. Com o saco cheio de peixes eles voltavam para casa e, ainda juntos, iam limpá-los para fazer a moquecada.
Houve também um tempo em que eles simplesmente entravam dentro do fusquinha bege e davam voltas pelas ruas, só para ver o movimento...
Um dia ele a ensinou a jogar bisca e quando jogavam apostando balas, ele se enchia de orgulho porque ela fazia o favor de ganhar todas as rodadas. Ao se dar por satisfeita, ela reunia seu ganho, colocava em uma sacola e ia dormir.
Foi ele também que a ensinou a dirigir o fusquinha bege aos 15 anos de idade; a trocar pneu logo em seguida; que chovia em todos os dias de finados e que este dia era reservado para rever os tios, tias, primos e primas lá de Itapina.
É, ela foi uma companheira e tanto em todas as horas e em diversas aventuras. Fora as noites que ele perdeu (ou ganhou?), velando-a com febre altíssima por causa das inflamações de garganta, noites e dias estes que ela não comia nada além daquele copo de salada de frutas comprado no bar do “Seu Lindolfo”.
E foi assim, até o dia em que ele, numa mistura de alegria e tristeza, alívio e dor, esperança e saudosismo, magia e inquietação, felicidade e nervosismo, atravessou a nave da igreja com ela pelo braço para entregá-la a outro homem (que no seu íntimo não passava de mais um garoto).
21 anos de convivência feliz, ao mesmo tempo que conturbada, passaram pela sua mente naqueles pouco mais de 4 minutos. Ele sabia que no final daquele corredor apertado da igreja, toda enfeitada de flores, quando ele entregasse o seu bem mais precioso àquele cara, sua parceira perfeita não estaria mais à sua disposição em todos os momentos que ele precisasse...
Mas é assim, fazer o quê?
Um pensamento, então, tomou conta de sua mente, talvez enviado por Deus para que ele pudesse cumprir mais esta missão da melhor forma possível: “chega um momento em nossas vidas que nossos filhos deixam de ser filhos, mas nós, nunca deixamos de ser pais!”
Feliz dia dos Pais!

Um comentário:

  1. Linda homenagem!!! Conseguiu me fazer chorar...
    Belo texto. Estou orgulhosa de vc...
    Te amooo!!

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