segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

ADVERTÊNCIA DO CÉU


Há algum tempo não consigo escrever sobre coisas amenas, divertidas. Não tenho rido, tão pouco feito rir. Andei ensaiando alguns textos mais leves, relaxados, cômicos até, mas eles não saiam do ensaio, do rascunho, de um documento iniciado, não acabado, salvo na pasta do meu blog.

Neste fim de semana, passei por uma experiência que imaginei só existir ‘lá fora’, só vi acontecer com os outros, só tomava ciência pelos meios de comunicação. Aqueles que acompanham este espaço com certa regularidade, puderam ver as fotos da minha cidade tão querida, completamente debaixo d’água.

Foi uma sexta-feira comum, como as demais. A semana havia sido quente e começou a chover por volta de 20h. Choveu a noite toda, aliás. Uma chuva ininterrupta, de grande volume, em todo o Município, sobretudo na cabeceira do Rio Guandu e de seus afluentes.

No sábado, por volta do meio dia o primeiro alerta: o Distrito de Fazenda Guandu estava debaixo d’água, literalmente, e a enchente se encaminhava para Afonso Cláudio. Só que o alerta foi mais lento que a violência das águas, que a força da natureza, que a correnteza que se formou em toda a extensão da cidade. Enquanto pensava-se em salvar móveis ou eletrodomésticos, a água subia copiosamente sem tréguas.

As fotos falam por si, e muito mais ainda. Amigas que dividem o mesmo ambiente de trabalho que eu perderam tudo, de móveis e utensílios a roupas e objetos pessoais. Mas houve quem perdeu mais: uma família perdeu um ente querido, outras tantas perderam a casa toda, que veio a baixo como num passe de mágica.


O que se via pelas ruas eram pessoas estupefatas, horrorizadas com a violência das águas, abismadas por não poderem fazer nada pelos amigos e parentes que estavam nos locais da cidade que ficaram completamente ilhados. Os telefones não funcionavam, a luz precisou ser cortada em alguns bairros, o abastecimento de água foi cortado em toda cidade (ironia) e a chuva não parava de cair.

Os prejuízos materiais ainda estão sendo calculados. Há aqueles que não conseguirão chegar a um denominador comum, tendo em vista a imensidão de suas perdas.

Entretanto, em meio a tanta água, lama e destroços, a população de Afonso Cláudio se mostrou solidária no alvorecer do domingo. Nas ruas, além do caos e do barro, viam-se pessoas solidárias ajudando-se mutuamente a lavar as casas, separar o que ainda poderia ser aproveitado, dando abrigo e alimento para os que não tinham para onde ir, ou mesmo com um abraço fraterno e uma palavra de alento.

De tudo isso, me restou a certeza de minha pequenez diante do mundo, diante da vida e, sobretudo, diante de Deus. Mostrou-me também que Deus não dormita, que Ele está nos observando em todos os momentos, em todos os sentidos, em todas as circunstâncias, e não tarda a se mostrar para nós.

Enquanto isso, procurarei olhar mais para os lados e para mim mesma ao mesmo tempo, de modo que perceba o que tenho, valorize isso e aprenda a dividir com meu semelhante não só o pão de cada dia, mas também a disposição, a dignidade, o amor, a compreensão e a felicidade.

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