Encontrei-me com ela outro dia na rua. Mesmo de longe reforcei a idéia que ela passa de si: grande e forte. Dependendo de como ela olha para mim chego a me assustar. O que ela transmite, na verdade, é austeridade.
Paramos uma diante da outra e nos cumprimentamos. Ela sorriu seu sorriso doce e disse sentir saudades. Há tempos não nos vemos. Conversamos, trocamos figurinhas. Contou-me que está feliz. Seus olhos brilharam ao dizer-me isso. Vi ressurgir, lá no fundo, minha velha amiga, irmã para todas as horas, parceira das mais loucas aventuras. Mais um abraço e ela se foi, apressada como sempre, mas com passos leves, como se pisasse em nuvens de algodão.
Fiquei a pensar, mesmo que não dissesse, saberia que está feliz. Conheço-a pelos seus olhos, pelo timbre da sua voz e por esse seu andar de anjo saltando as nuvens.
Quando virei para seguir meu caminho, um pensamento transpassou a mente: minha amiga tão bela, tão grande e forte, de austera só tem a casca. De coração doce e terno é capaz de desmanchar-se no primeiro sinal de ultraje e aí sofre, deprime-se, entristece. Mas, na mesma medida, levanta-se, dá uma ajeitadinha nas belas vestimentas, abana os resquícios de poeira, os ciscos do chão, empina o nariz e reconstrói seu caminho, não de tijolos amarelos, mas de nuvens; aquelas mesmas nuvens de algodão que lhe são ajeitadinhas com as mãos para que fiquem bem fofinhas.
Sim, ela é mesmo grande, forte e bela, mas não austera. Antes é mutável, evolutiva, flexível, afável, amável, apaixonante... Agora, mais que nunca, apaixonada: pela vida, por si mesma e sabe Deus por quem mais.
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