sábado, 31 de outubro de 2009

HISTÓRIA DE UM BOM HOMEM


Há algum tempo, existiu sobre a terra um homem muito bom, justo e que conversava com as plantas. Este bom homem vagueava pelas florestas observando o verde, os frondosos troncos das árvores, os pássaros que cantavam em seus galhos e maravilhava-se com tudo aquilo.

Sentia-se bem, em paz e realizado entre as árvores. Ele lhes fazia companhia e elas lhe davam amor, atenção e compreensão em todas as suas dúvidas, recorrentes de sua jornada sobre a terra.

Entretanto, houve um dia em que alguém disse a este bom homem que ele poderia ganhar muito dinheiro, juntar uma grande riqueza e conquistar o mundo se derrubasse e vendesse aquelas árvores.

Por algum tempo o bom homem titubeou, haja vista que amava aquelas plantas e elas o tinham em grande estima. Mas aquele alguém disse que seria apenas por um tempo, que ele não destruiria todas as árvores e que no final sempre restariam outras árvores para ele conversar, receber e dar atenção e carinho e que conhecer o mundo valeria à pena.

Entusiasmado pela possibilidade de conhecer o mundo, o bom homem iniciou sua jornada sem perceber que estava magoando aquelas que mais amava e, em contrapartida, que mais o amavam em toda a sua vida.

Durante dias, semanas, meses e anos o bom homem trabalhou naquelas matas derrubando as árvores mais frondosas. Sua ânsia em conhecer o mundo era tanta que ele sequer ouvia o clamor de suas amadas amigas que lhe chamavam a atenção para o despautério que cometia contra elas. Quanto mais elas chamavam sua atenção, mostravam-lhe seus erros, mais e mais ele usava o seu machado para machucá-las e derrubá-las ao chão, visando apenas o objetivo final de conhecer o mundo.

Então, finalmente chegou o dia em que o bom homem conheceria o mundo. Juntou seus pertences e partiu em direção à sua jornada. Percorreu ruas, monumentos, construções erguidas pelos homens e montanhas, mares e vales, construções estas feitas por Deus. Tudo lhe era maravilhoso e enchiam seus olhos, mas parecia faltar algo que ele, em seu afã de conhecer o mundo, não conseguia identificar o que era.

Quando entrou num imenso jardim que fazia parte do mundo, o bom homem encantou-se com as belíssimas as árvores que ali encontravam-se. Tentou conversar com elas, mas elas pareciam não falar a mesma língua que ele e ele não as compreendia, tão pouco elas conseguiam expressar-se para ele e mostrar-lhe qualquer resquício de amor ou mesmo carinho.

Um aperto profundo tomou conta do coração do bom homem e ele compreendeu imediatamente o que faltava em sua jornada. Num impulso único, reuniu novamente os parcos pertences que lhe sobraram de sua jornada e retornou à sua floresta. Quão grande foi sua surpresa quando percebeu que esta já não mais existia. Em seu lugar jazia um imenso deserto com tocos, restos mortais daquelas que eram seu único e verdadeiro amor. Seu lar já não mais existia.

O silêncio que tomava conta daquele lugar era incomensurável e tão dolorido que o coração do bom homem chorou lágrimas de sangue.

Por um instante, ou vários, ele tentou restaurar o que havia perdido. Mas foi em vão. Não tinha como repor as belíssimas árvores que havia destruído. Suas amigas, amadas, amantes. Restava-lhe apenas reconstruir a floresta, replantando todas elas, cultivando-as com amor, carinho e dedicação, mas ele não sabia se ainda tinha forças para essa empreitada.

Perdido, desolado e sozinho, retornou ao mundo e pôs-se a vagar por entre aqueles lugares tão desejados anteriormente, na esperança de que pudesse encontrar um só amor que substituísse aqueles tantos perdidos com sua ignorância. Entretanto, quanto mais vagava, mais sozinho se sentia e ainda mais arrependido de não ter ouvido a voz dos seus amores enquanto ainda havia tempo.

Um comentário:

  1. Essa é 'a metáfora da vida' mais linda que vc escreveu!
    Belíssimo conto, ainda sem fim...

    Quisera poder ver "as árvores replantadas, as florestas reconstituídas", é possível?

    Quisera também acreditar ser possível; acreditar e esperar acontecer... mesmo assim, não teria a mesma magia de antes, a mesma harmonia de antes. As árvores agora não são as mesmas, o solo não é mais o mesmo.

    Antes é preciso restaurar o coração deste homem, é preciso que ele se perdoe, é preciso restaurar a confiança das árvores, é preciso muita disposição para que ele passe por todo esse processo. 'Ainda há tempo?'

    Para Deus nada é impossível, mas Ele precisa da concessão do homem...

    'Uma coisa é certa': "nem sempre Deus chega nos momentos em que queremos, mas Ele nunca chega atrasado! Ele sabe a hora certa, sempre nos dá o necessário."

    Peçamos o necessário para que este conto tenha um final feliz!!

    Bjão, tenha fé!!
    Com todo meu carinho, estou contigo sempre!

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