segunda-feira, 28 de junho de 2010

CASAMENTO POMERANEO - II


“Sábado de sol, aluguei um caminhão; prá levar a galera, pra comer feijão”.
Bom, não foi bem assim, mas também levei a galera. Não no caminhão, no meu gol e para comer bolo, doce, biscoito, pão e tomar café, leite e ‘shinaps’. Ah! o sábado era mesmo de sol, mas frio, frio, frio. Só para lembrar, subimos novamente a serra.
A aventura dessa vez começou na igreja, que não era na mesma direção da festa da noite anterior. Precisamos dar outra volta, o que me levou, novamente, a desenvolver meu senso de direção, a Marcela me ligar antes de sair de casa (porque esqueci de dizer antes, lá não existe sinal de celular) para dizer: “Não entre em nenhuma estradinha, siga a principal”, e o Dagoberto a se desesperar.
Mas sou boa em direção, a Marcela em descrever estradas pelo celular (mesmo confundindo direita com esquerda) e o Dagoberto em entrar em colapso nervoso por não confiar em mim dirigindo numa estrada principal que mais parece carreador de café, cheinha de estradinhas adjacentes. É tudo tão confuso que tem horas, parece que a gente vai entrar no terreiro de uma casa e não seguir estrada a fora.
Depois de algumas dúvidas em algumas encruzilhadas, chegamos à Igreja. É claro que o Pastor já estava prestes a dizer amém, mas chegamos: sãos, salvos e empoeirados.
Finda a cerimônia voltamos à festa, no mesmo local da noite anterior. Para nós a festa deu uma pausa, mas para os demais convidados parece que não. Chegamos até lá seguindo o ‘caminhão do casamento’, todo enfeitado com flores e bandeiras azuis e vermelhas, levando boa parte dos convidados. Desta vez o desespero do Dagoberto não era que eu errasse a estrada, mas que ele morresse sufocado com tanta poeira.
Lá os ritos tradicionais continuaram com foguetes, concertina, gritos (ih-ih-ih-ihihihihihih), bandeira no mastro com nome dos noivos, saudações e mensagens de boa sorte aos nubentes, flores, presentes, bandeirolas e uma mesa de muitos metros repleta de bolos (ladrão, farofa, com glacê colorido, de todas as cores e com frutas), doces, geléias, biscoitos, pães e tomar café, leite e ‘shinaps’, que eram repostos a todo minuto durante toda a tarde, até a hora da ‘janta’.
Depois viriam a dança dos noivos, onde os homens pagavam para dançar com a noiva e, por conta disso, Dagoberto ganhou um lacinho de fita rosa na lapela e teve que desembolsar alguns trocados logo na entrada (acho que adivinharam que ele não iria mesmo dançar e lhe enfiaram a faca ali mesmo).
Os copeiros e copeiras também tinham laços de fita presos nas roupas. Os copeiros amigos da noiva usavam lacinho vermelho, os amigos do noivo usavam verde. Os padrinhos do casamento usavam branco e os parentes usavam todas essas cores, mas eram laços maiores, mais largos. Os laços dos homens que iam dançar com a noiva eram de duas cores: azuis para os casados e rosa para os solteiros (eis o motivo do lacinho do Dagoberto ser rosa).
Lá para o final da festa as cozinheiras passam com a panela vazia arrecadando uns trocados, bem como os copeiros e os tocadores de concertina. Todos os convidados são ‘convidados’ a colaborar e o dinheiro arrecadado é destinado a pagar esses profissionais que trabalharam muito na última semana para realizar a festa. O dinheiro referente à arrecadação com a dança dos noivos é destinado a eles mesmos, para que iniciem seu pé de meia.
Não ficamos até o final da festa, porque já estávamos cansados e à medida que o sol ia descendo no poente, o frio ia tomando seu lugar. Saímos cedo, mas bem mais ricos em conhecimentos culturais e afagados em carinho por pessoas tão peculiares que em toda sua simplicidade nos fizeram sentir especiais somente porque queríamos conhecer um pouco mais de sua rica vida, cheia de ritos e cerimônias que preservam a história de um povo e os fortalece como grupo social.

Um comentário:

  1. Lembrei-me da música de Patu Fu - SIMPLICIDADE:
    "Busquei felicidade
    Encontrei foi Maria
    Ela, pinga e farinha
    E eu sentindo alegria" RSRS

    A felicidade está, indiscutivelmente, nas coisas simples!!

    Foi mt boa a aventura, relembrei coisas boas da minha vida de 'bichinho do mato'.

    Precisamos viver mais isso.

    Bjus

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