quinta-feira, 11 de março de 2010

REALIDADE


Este post não vai ser bonito, nem engraçado. Não vai trazer poesia como em tantos outros anteriores. Este post é apenas um desabafo da triste realidade que tenho encarado nas últimas semanas. Portanto, se não quiser lê-lo pare por aqui. Se prosseguir, peço, encarecidamente que me ajude a solucionar meu questionamento do último parágrafo, pois a cada dia que passa ele torna-se maior e mais difícil de ser resolvido.

De posse de nova função, tenho subido e descido serras, enfrentado chuva e sol. Tenho comido poeira e amassado barro. Tenho ficado sem almoço e até mesmo disposição (ou estômago) para almoçar. Tenho hora de sair de casa, mas nunca hora de chegar.

O que tenho visto, ouvido, observado e analisado é que a teoria é belíssima: atrás de uma mesa; em livros bem escritos, num computador de mesa ou de mão, com capas duras, letras coloridas e tudo mais. Mas a realidade faz os olhos arderem, o estômago doer, a cabeça parecer explodir, a emoção aflorar a pele e os olhos se encherem de água.

Belo é ver uma educadora por vocação conseguir que uma criança que há um mês freqüentando a escola ainda não disse uma palavra, ou realizou uma atividade, fazer sua avaliação diagnóstica apenas com acenos de cabeça e de mão e, com isso, levar outra educadora (esta em iniciação) a lacrimejar.

Triste é entrar numa sala de aula e deparar com 30 e tantos alunos de 06 a 14 anos, distribuídos do 1º ao 5º ano, com apenas uma professora para, além de ensinar a todos, limpar a escola, fazer a merenda, arrumar a cozinha, olhar para que as crianças não se matem no recreio, preocupar-se com o baixo rendimento daqueles que apresentam Necessidades Educacionais Especiais e ainda dar satisfação àqueles que, atrás de suas mesas, continuam achando linda (e perfeita) a SUA teoria.

Meu coração, mais que minha mente, me diz que preciso fazer alguma coisa para resgatar esses pequeninos cidadãos em formação, auxiliar esses professores cheios de boas intenções, mas que a muito perderam o entusiasmo e o brio diante das infindáveis dificuldades encontradas em seu dia-a-dia na sala de aula.

Mas o que fazer? Não consigo achar uma solução, uma pequena luz, para salvar um fio que seja desta bela teoria da qual estou cheia e que aos olhos de muitos aparece soberana, entretanto, a cada nova escola que visito, a cada aluninho com o qual converso e avalio, a cada professor que ouço o desabafo, compreendo que foi formada longe, muito longe, da verdadeira realidade das escolas multisseriadas da zona rural.

3 comentários:

  1. Nossa! Que triste essa realidade...

    Não quero entrar nos méritos de que o governo é que deveria ser o maior responsável por proporcionar melhores condições à educação.

    Mas penso que o educador possui uma parcela de culpa pelo que já está ruim ficar ainda pior. Deve ser difícil para um professor se deparar todos os dias com a displiscência e grosseria de muitos alunos; mas, mais difícil ainda é saber que os outros (os bons alunos, ou os que podem vir a ser) não terão oportunidade de desenvolver um bom aprendizado devido a essa generalização que se faz a cerca de tudo.

    Patricia, acho a solução é complexa e requer a atenção de muitos envolvidos. Mas creio que se cada profissional da área educacional fizer a sua parte, o resultado passará a ser favorável. Ao unir os fragmentos de boa vontade forma-se uma ideia; e boas ideias tendem a se espalhar rapidamente. Será que palestras motivacionais direcionadas aos professores não surtiriam algum resultado positivo?

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  2. Olha Robson, isso já fazemos, mas realmente precisamos de algo a mais e é exatamente esse 'algo a mais' que estou buscando. A realidade com a qual nos deparamos aqui não dá para ser descrita, tem que ser vista e vivida. Mas também tem gente interessada e disposta a fazer a diferença e é com elas que buscarei subsídios para tentar ajudar os demais.

    Valeu pelo carinho e atenção.

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  3. Éee... estou compartilhando contigo dessa angústia diante do que estamos presenciando, mas tenho esperança de que dias melhores virão. Só que
    "é bom ter esperança, mas é ruim depender dela" (Textos Judaicos).

    Então, vamos fazer o que estiver ao nosso alcance, sem esquecer também de enaltecer o trabalho daqueles que se empenham para fazer a diferença, assim como nós. Que bom q em meio aos que 'não estão nem aí pra hora do Brasil' têm aqueles que se dedicam, porque o fazem por AMOR e não por dinheiro...

    Bom trabalho!! Estamos aíii...

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