quinta-feira, 5 de agosto de 2010

BRINCADEIRA DE CRIANÇA


Quando criança, o que mais gostava de fazer era brincar na rua. Era no finalzinho da tarde onde os passarinhos cantavam uma canção de boas vindas, que a meninada eufórica ia saindo das portas das casas e a rua ficava repleta de crianças de todos os tipos, cores, cheiros e sabores, que corriam de um lado para o outro, organizando grupos, idealizando brincadeiras, separando times, e tinha aquelas que ficavam simplesmente sentadas no meio fio, vendo o movimento e colocando as conversas em dia com os colegas.
O período de férias era o melhor, porque nós podíamos ficar até mais tarde nas brincadeiras de rua, além de podermos nos juntar durante o dia também pra andar de bicicleta, nos aventurar no quintal dos vizinhos, subir em árvores e explorar ambientes que nos eram restritos no período de aulas.
De uns tempos para cá, tenho observado que não se ouve mais a música das crianças nas ruas, porque elas não estão mais povoadas de meninos e meninas descalços, gritando, andando de bicicleta, jogando bola. A meninada não marca mais encontro na ‘rua de baixo’ para subir no pé de manga do ‘seu Joaquim’, ou se ajuntam na casa de um ou de outro para jogarem ‘bilisca’. 
Não sei até que ponto a modernidade e a ‘globalização’ da vida atual têm modificado a vida das crianças de hoje, mas pique-esconde agora possui outra conotação, não é mais real, é virtual.
Os torneios que acontecem na vida das crianças de hoje não são de peteca, peão ou corrida de carrinho de rolimã. Os torneios de hoje acontecem na frente da tela de um computador, mediante disputas de vídeo-game e os encontros que antes eram realizados na rua, corpo-a-corpo, agora ocorrem no Orkut e no MSN.
Os contatos físicos que nos faziam suar, dormir como uma pedra e comer apressado para não perder tempo na rua, esses eu não sei como estão. Andam subtraindo a infância das nossas crianças. Antes se era criança até 15, 16 anos. Hoje só se é criança até os 10 anos, depois disso a nomenclatura muda, o tratamento também e as relações mais ainda.
Sei que a ausência das crianças na rua não se deve apenas à virtualidade que a vida vem assumindo, mas, sobretudo à insegurança que a rua oferece e ao corre-corre dos pais, preocupados em dar conta da vida e não apenas deixá-la tomar seu curso natural. Então, o que quero levantar aqui é um momento de reflexão de para onde estamos caminhando; até que ponto vamos privar nossos filhos e demais gerações dos prazeres reais que tivemos em nossa infância devido à impossibilidade de tornarmos a sociedade um lugar bom de viver.
Você já pensou nisso? Então pense.
(Publicado no Jornal Cidade, Jul. 2010)

Um comentário:

  1. Pensar nisso?!
    Penso sim, penso na minha infância e sinto saudades, pois não vemos mais isso hj...
    E como fazer com que a nossa 'velha infância' volte? Como não deixar que os 'pcs' tomem os quartos das crianças? Que o vídeo-games não tomem todo espaço e tempo da sua infância?

    Vale a pena pensar, pois quem presenteia as crianças com as novas tecnologias são os pais.

    É preciso ensiná-las tudo: a brincar, a respeitar, a valorizar, a buscar prazeres em coisas que as tornarão pessoas felizes, realizadas, 'humanas'...

    Bj, belo texto, meu anjo!!

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