domingo, 12 de setembro de 2010

DIA 24 - A VIAGEM DE PESADELO

O telefone de casa tocou. Um arrepio percorreu minha espinha até a nuca. Por algum motivo eu já sabia quem estava do outro lado da linha e qual seria o teor da conversa. Tomei um banho rápido e saí de casa por volta das 20h. Silêncio. Não conseguia proferir uma só palavra. Meus olhos de súbito secaram, a garganta também.

Viagem mais longa que o habitual. Cheguei àquele pátio tão comum nos últimos dias por volta das 23h. Silêncio. Uma garoa fina havia caído minutos antes. Novo arrepio.

Identifiquei-me na portaria e subi pelo elevador que evitará ao máximo nos últimos 58 dias. Silêncio. Só meus passos eram ouvidos pelo corredor gélido e sombrio.

Pediram-me para que aguardasse que alguém viria falar comigo. Silêncio. Outros passos que não os meus foram ouvidos. Com poucas palavras e o mínimo de explicações a notícia que meu coração já esperava foi dada. Não consegui proferir uma só palavra, apenas um aceno de cabeça e um suspiro. Silêncio. Algumas lágrimas secas cortaram meu rosto. Dor. Silêncio.

Como repassar a notícia? 23h40min. Lembro-me perfeitamente desse horário quando peguei o celular. Do outro lado da linha ele também já sabia o que eu iria dizer. Silêncio.

Mais algumas horas de espera dentro do carro parado no estacionamento. Silêncio. Frio. Um frio diferente, um frio de morte.

Às 2h retornei. Agora em dois carros. Silêncio. As palavras continuaram impossibilitadas de ser proferidas. A estrada escura e fria ia estreitando-se a cada curva. Estávamos de volta às 4h. Minha mãe no carro da frente, adormecida para sempre. Eu no carro de trás. Silêncio.

Um comentário:

  1. Sem palavras...

    Faltam 11 dias... o que mais vem por aí?! rs

    Bj!
    Ps.: Triste, mas muito bem escrito o texto!

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